Há exatos 200 anos, em uma família judia de classe média da Renânia, a sudoeste de uma Alemanha dividida, atrasada e despótica, nascia Karl Heinrich Marx. Poeta apaixonado quando jovem, filósofo por formação, revolucionário profissional, político e organizador, matemático amador, fumante compulsivo, suas ideias definiram em grandes linhas a história da humanidade ao longo do século 20 e até hoje. Marx não inventou nem descobriu a luta de classe, mas a explicou de uma maneira que ninguém jamais havia feito antes.
Por detrás dos conflitos aparentemente acidentais entre patrões e empregados, escravos e senhores, servos e nobres, Marx viu profundas bases materiais, poderosas forças econômicas e sociais: a luta pelo controle sobre as riquezas extraídas da natureza e transformadas pelo trabalho humano. E o mais importante: deu a esses conflitos um sentido, um objetivo, formulou um programa, uma saída, um meio de superá-los.
Marx também não inventou o socialismo, que já existia como corrente filosófica e movimento político muito antes dele. O que Marx fez foi dar ao socialismo bases científicas. Transformou um sonho romântico em um objetivo alcançável. Em meio aos diferentes conflitos das diferentes classes sociais, Marx identificou que a classe dos trabalhadores assalariados, por não possuir nenhuma propriedade e por ser encarregada de mover, com seu trabalho, a gigantesca roda do capital, concentrava em si todas as explorações e todas as opressões de todas as outras classes exploradas e oprimidas.
E que por isso a sua libertação do jugo do capital acarretaria a libertação de toda a humanidade. Ao contrário do que se diz, Marx não era economista, mas sim um crítico da economia. Sentou-se durante 20 anos em um gabinete úmido e mal iluminado para provar ao mundo que a assim chamada “ciência econômica” não passava de ideologia. Que por detrás das fórmulas impessoais dos economistas, o que havia era trabalho humano, suor e sangue. Nessa busca, Marx desvendou o verdadeiro mecanismo da exploração capitalista: ao oferecer uma certa quantidade de dinheiro ao trabalhador em troca de uma certa quantidade de horas de trabalho, os capitalistas arrancavam dos trabalhadores uma quantidade de riquezas muito maior do que aquela que pagavam na forma de salário. Era um “valor a mais”, que Marx chamou de mais-valia ou mais-valor.
Não havia nenhuma liberdade na relação capital-trabalho. A igualdade jurídica entre patrões e empregados escondia a desigualdade real entre despossuídos e possuidores, mascarava a obrigatoriedade dos trabalhadores se submeterem à exploração para não morrerem de fome. Marx não se contentou em explicar o mundo. Ele queria transformá-lo. Construiu partidos, uma associação internacional, organizou, ensinou, escreveu, agitou, conclamou. Atacou governos, políticos, papas e generais. Abriu mão de uma confortável cátedra em sua universidade natal. Pagou o preço.
Foi exilado e perseguido. Morreu pobre, mas com sua honra intacta. Seus últimos dias foram particularmente difíceis. A morte da esposa amada com um câncer doloroso. Marx morreu deixando para trás uma obra impossível de ser medida, um conjunto grandioso de ideias tão poderosas quanto eternas. Marx morreu no dia 14 de março de 1883, mas – coisa estranha – sua morte foi anunciada milhões de vezes desde então! Sempre é a “morte definitiva”.
E a cada vez os inimigos da liberdade e do progresso humano comemoram mais e soltam mais fogos. Há algo que não se entende sobre Marx: que suas ideias adquiriram vida própria, que o que ele revelou não pode mais ser escondido porque toda a humanidade caminha exatamente no sentido que ele disse caminhar: para disjuntiva entre a barbárie e o socialismo.
O mundo mudou muito desde Marx. Mas não os pressupostos de sua teoria: a exploração do capital sobre o trabalho segue sendo a pedra fundamental sobre a qual se erguem todas as maravilhas e todas as desgraças da espécie humana. O socialismo segue vivo nas ideias de Marx e na luta da classe trabalhadora do século 21. Diz um ditado espanhol “los muertos que vos matáis gozan de buena salud”. Assim é Marx.
Anunciem a sua morte! Toquem as trombetas! Não importa. Nascido há 200 anos, ele segue vivo, e goza de perfeita saúde.
Por: Esquerda on-line
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