segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Reflexões sobre os museus e a cultura enquanto política pública



Por: Leonardo Koury

O Museu Nacional neste final de semana foi queimado vivo, literalmente. Estamos a cada dia estreitando duas condições humanas terríveis, o neoconservadorismo e o neoliberalismo. 

Condições expostas por um sistema econômico que privilegia os ricos e trata o que é público no que deve ser entendido pelo país como gastos básicos e presos na escazes das não prioridades.

O capitalismo  e claro, acelerado pelo Golpe no Brasil, desconsidera a Cultura como um direito. Vale ressaltar que essa política pública está com investimentos insuficientes e trancada dentro da Emenda Constitucional 95 que congela o investimento em políticas sociais até 2036.

Só a luta muda, mas para que nossa identidade nacional seja preservada a luta passa pelo poder popular, por financiamento público para o que é um direito da coletividade. 

Não há cultura que sobreviva em tempos de eolpe!


Leonardo Koury - Assistente Social, Professor e militante da Frente Brasil Popular

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Pinos, Helicoca e o Disco Voador



Trabalho em Neves 
Na manhã bem cedo
Pego o pós madrugada
Atravesso a passarela
Que divide a minha casa
E essa quebrada
Muito pino que rola
Gramas, muita grana
Que desembola 
Uma série de reflexões
Loucuras, felicidades 
Desejo ou dor. Frustrações!
A Questão Social
E suas expressões.

As vezes tem tiros
Todos os tipos de tiros
Em mulheres, crianças
E em meus amigos.
Que psicoativa(mente)
Tem seu valor.

Realidade é chata
Também quase me mata.
Mas o que me causa temor
É saber que o Helicoca passa
E a culpa é nossa?
Mídia de bosta
Nossa: Negras(os) pobres, faveladxs
Nós: assolados, isolados.
Helicoca é mito pra rico
Igual o disco voador.
Que terror!

Por: Leonardo Koury - Escritor, Assistente Social, Professor e militante na Frente Brasil Popular

sábado, 11 de agosto de 2018

NOTAS SOBRE A PROTEÇÃO INTEGRAL, DIVERSIDADE E ENFRENTAMENTO DAS VIOLÊNCIAS





A tentativa de construir um texto curto, de fácil linguagem e entendimento é o que norteará o breve diálogo sobre os termos e conceitos que falam dos desafios postos para a 11ª Conferência Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. Portanto a perspectiva é que possamos iniciar uma localização do porquê sobre a proteção integral, diversidade e violências (no aspecto dos enfrentamentos) estão colocados neste conjunto.

De início, falar sobre a proteção integral, em especial para esta parcela da população, não se pode descasar com as condições em que a maioria população brasileira na atualidade está disposta. Baixos salários, desemprego, precariedade no acesso das políticas públicas entre outros flagelos. Entender que é neste contexto a difícil tarefa em garantir uma noção de que proteger deve estar concatenada com a Seguridade Social e as políticas sociais.

No que trata de crianças e adolescentes, sujeitos de direitos, viventes numa sociedade adultocêntrica (que não reconhece as diversas formas de representação política deste segmento) e por outro lado o constante desafio de estar com suas vidas garantidas meio à precariedade posta no parágrafo acima que retrata a conjuntura atual.

Não é por acaso que o artigo 227 da constituição federal se inicia com a palavra é “dever” e não é direito. Pois às crianças e adolescentes, para ter os seus direitos resguardados, de forma primária precisam que (no aspecto do dever) a Família, a Sociedade e o Estado garantam o compromisso com a proteção integral que vai de questões relatas na materialidade pública até as políticas sociais, acesso ao mundo do trabalho protegido e resguardá-las de toda e qualquer violência.

É necessário também fazer um recorte que as famílias são um pequeno núcleo da coletividade e quando a entendemos paralelas a sociedade e ao Estado não quer dizer que ela tenha as mesmas condições de garantir a proteção integral. Se é dever da família e da sociedade o cuidado (por exemplo) ele se materializa nas condições em que o Estado construa através de orçamento e políticas públicas o que se expressa no artigo no âmbito da materialização da saúde, educação, assistência social, esporte entre outras.

Vale ressaltar que nos últimos anos o Estado Brasileiro tem deixado de lado a ampliação de uma série de serviços públicos e a partir da aprovação da Emenda Constitucional 95, e será um grande desafio a proteção não apenas deste segmento, mas para toda a sociedade. Vejamos os números e questões colocadas:

De acordo com Grazielle David, assessora do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), o orçamento do ano de 2017 para as políticas públicas marcou o pior investimento dos últimos 50 anos. União, estados e municípios ampliaram no valor de 2016 apenas 1,17% do PIB em todas as políticas públicas. Em contrapartida, as isenções tributárias e os juros da dívida pública chegam a somar 52,7% do Orçamento Público. O que isto quer dizer? Que até o ano de 2036, quando termina o prazo da emenda 95, os investimentos serão cada vez menores o que acarretará inclusive o fim do orçamento para algumas políticas como a de Assistência Social ou mesmo a terceirização de serviços públicos como Escolas, Unidades de Saúde e Hospitais. Como garantir a proteção integral neste cenário?

Antes de falar da diversidade é necessário dialogar sobre as diversas violências sofridas cotidianamente por crianças e adolescentes no Brasil e no Mundo. As violações de direitos são um tema contínuo e deve ter a atenção deste conjunto de atores sociais (Família, Sociedade e Estado), as crianças e adolescentes estão em todo e qualquer dado estatístico como as mais vulneráveis à violência e exploração sexual, tortura ou mesmo propícias ao abandono. O olhar adultocêntrico deve ser quebrado em nossa sociedade.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, a cada 7 minutos morre uma criança ou adolescente no mundo.

O cuidado passa ao compreendemos que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e suas formas de verbalização e política devem ser compreendidas na sua integralidade. Nos anos de 2016 e 2017 o número de violações no Brasil para este segmento aumentou em 56% no âmbito das denúncias feitas pelo Disque 100 de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos.

Criar políticas de enfrentamento às violências é preciso, mas os números que tratam das diversas violações só irão cair quando a qualidade de vida das crianças, adolescentes e suas famílias forem foco do investimento público. Não se pode investir mais no capital financeiro do que em políticas sociais (vide Emenda 95). Prevenir violências passa por garantir condições de acesso as políticas públicas e que este acesso seja pautado na qualidade da oferta e construída inclusive com a participação das crianças e adolescentes que tem toda a condição e legitimidade de dizer sobre o que demandam e o que esperam desta oferta.

E por onde caminha neste conjunto de conceitos a Diversidade? É importante primeiramente construir a ideia de que diversidade é esta que estamos colocando como desafios para a garantida dos direitos da população entre zero até dezoito anos. O Brasil esconde por uma condição hipócrita de democratismo e passividade sob a realidade de que somos majoritariamente negras/os como exemplo concreto.

Além disso, a condição não pode determinar quem somos, porém, a esperança é que nas crianças e adolescentes, em especial na primeira infância, que o compromisso de desconstruir o preconceito e valorizar nossos saberes, da sexualidade, histórias e cores de uma sociedade brasileira seja potencializada no dia a dia da Família, Sociedade e Estado.

A infância e a juventude podem dar para o presente /futuro a convivência das nossas diferenças sem que se tornem desigualdades. Está presente também neste segmento pessoas com deficiência, mulheres, religiosidade e enquanto classe: a potencial luta por sobreviver ao preconceito construindo alternativas cotidianas de ter o sorriso e a esperança como a estratégia de afirmar nossas diferenças.
O texto termina por aqui, o diálogo não; mas ao parafrasear Rosa Luxemburgo é necessário acreditar em uma sociedade em que crianças e adolescentes sejam farol de um mundo humanamente diferente, socialmente igual e claro, um dia, todas e todos totalmente livres.




Leonardo Koury Martins – Assistente Social (CRESS 15.472 6ª Região), Professor do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Unihorizontes, servidor público em Ribeirão das Neves e conselheiro, coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CRESS-MG.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Ensinamentos de pai e mãe




O que nos resta?
Nas ruas sujas, lotadas
No povo pobre
Que se esmola 
Nas escadas.

Na correria
De um dia sem 
Festa.

É verdade
Não somos nada.

A poesia que exaja
Nem sempre é de alegria.

Esta nova epidemia
De entender 
O que está posto.

De tanto desgosto
Você com seu ego 
Inflado.
Se vendo mais alto
Que os prédios
Ali esticados,
Caixas cheia de gente.

O que somos de melhor
Não está nos discursos
Falsos ditados
Está no que fazemos
Para mudar esta loucura.

De dizer não e parar
Com toda esta ditadura
Que se expõe em um mundo
De opressões dos corpos
E da líquida superficialidade.

Termino aqui tentando
De forma construtiva
Pensar o que temos
De melhor. O que será?
O melhor de nós.

Nossas lutas
Sonhos e vontade(s)
Só servem se for
Pra ser coletivo
Não há meritocracia
Que mude os outros dias
Se o dia de hoje
Não for pra nos dedicar:

Lutar, resistir e sonhar.

Tem que ter algo,
Sólido, concreto.
E que não seja
Para nós o mesmos.

Que fama que nada
O planeta precisa
É de menos soberbos
E talvez mais desvaneios.

Como pai e mãe diziam
E nunca escreveram
O melhor de nós
É o que fica 
No coração dos outros.

Eu nasci em julho
E sou um pouco deles
Que nasceram em setembro
E também em agosto.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Ideologia e o Futebol





| Por: Leonardo Koury* 



O goleiro da Bélgica é formado em Ciência Política, o artilheiro têm MBA em Gestão. 

No Brasil, o principal jogador sonega impostos que farão falta para melhorar as escolas públicas por exemplo.

Vejo os meus amigos nas redes sociais falando mal do Brasil, torcendo contra entre outras brigas por conta do resultado da Copa do Mundo. 

Como podemos confundir Pátria com Seleção Brasileira, ainda mais quando quem a coordena é a CBF. 

Torço para o Brasil, adoro futebol e não queria ter saído nas quartas de fnal, mas não posso também esquecer a realidade em que vivemos. Queria mais um ponto facultativo, mas a folga não resolve o nosso futuro.

Vivemos uma conjuntura terrível que arrasta o povo para a pobreza, violência e ao desmonte dos nossos direitos sociais. Lula preso, criança de uniforme morta pela polícia, Marielle presente mesmo esquecida pela imprensa, intervenção militar? A cada semana ficamos mais privatizados por interesse de quem nos deu um golpe.


--
*Leonardo Koury: Assistente Social, Professor no Curso de Serviço Social no Centro Universitário Unihorizontes.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

O Crivo do Voto





No Brasil se utiliza um sistema de eleição onde o candidato a presidente que atingir a maioria absoluta de votos é eleito e assume o mandato para promover a prestação de serviços e prover a manutenção da ordem pública pelos quatro anos conseguintes a partir de primeiro de janeiro do ano seguinte até 31 de dezembro de quatro anos depois. 

Um candidato à presidência cria um projeto de governo, apresenta a população e se os eleitores acatarem aquele projeto como o que mais defende suas demandas e o votarem nele de forma absoluta ele é eleito, nesse caso se cria duas classes distintas: a dos que votaram naquele candidato, que ganharam a eleição e aceita aquele projeto como o melhor, essa classe geralmente representa 2/3 das pessoas (situação). A outra classe é a daqueles que votaram no outro candidato e que aceitaram o projeto derrotado como o melhor projeto e que são contra o projeto que será implantado, essa classe representa 1/3 das pessoas (oposição). 

O Brasil vive um momento que não pode ser considerado um hiato de sua história, já que a maioria dos nossos presidentes não tiveram seus projetos aceitos pela população, não passando assim pelo crivo do voto, a maioria gritante se tornou presidente por golpes de estado ou processos que levaram outros candidatos eleitos a terem seu mandato impedido. 

O único vice-presidente que teve seu projeto aprovado pelo crivo do voto foi João Goulart, porque naquele período em singular, o presidente e o vice não compunham chapa, eram eleitos de forma não relacionada, cada um exercendo seu próprio mandato sem relação com o outro.

Ou seja, a maioria dos presidentes brasileiros não tem seus projetos aprovados pelo voto popular, já que não são eleitos, sejam os vices que tomam posse passando por cima da cabeça de seus companheiros de chapa, sejam aqueles que entram por golpes dilacerantes de estado, é aí que mora a instabilidade. 

Quando um presidente não tem seu projeto eleito ele cria uma nova classe, a daqueles que nem concordam e nem discordam dele, que é a mais problemática. Quando um presidente tenta aplicar seu projeto de forma autoritária, sem coragem de tentá-lo, ou sem capacidade, de passar o mesmo pelo crivo do voto popular ele tem um espaço de instabilidade, que é uma parte da população que nem o odeia e nem o ama, que a qualquer momento pode virar corpo daqueles que o odeiam.

No exemplo pratico deve-se comparar o governo de Itamar Franco e o de Michel Temer, pois ambos entraram por processos de impeachment de seus companheiros de chapa, no caso de Michel Temer processo organizado por ele mesmo.

Itamar Franco teve seu projeto de governo, que não passou pelo crivo do voto, marcado pelo Plano Real que se propôs a reduzir anos de hiperinflação e tentar criar espaços de estabilidade na economia e consequentemente na política. A partir da produção dessa impressão de confiança ele conseguiu transformar o hiato de instabilidade, que é o grupo que nem gosta e nem desgosta, em quadro para o grupo que o apoiava naquele momento e saiu de forma muito tranquila de sua gestão.

Michel Temer não teve nenhuma marca positiva em seu governo, e também tem as pessoas que nem o odeiam e nem o amam, ele tem as pessoas que o apoiam de forma singular e irremediável que são aquelas que foram a favor do impeachment e também tem aquelas que o desaprovam de forma muito incisiva que são os contrários ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. A diferença entre Michel Temer e Itamar é que o grupo que “nem o aprova e nem o desaprova” não tombou para a situação como no caso de Itamar, eles tombaram de forma muito densa para o lado daqueles que o desaprovam, a oposição.

Um governo que não tem seu projeto aprovado pelo voto, pois a questão básica é muito simples: economistas, cientistas de todas as áreas, gente que estuda e analisa a área pode até emitir pareceres muito bons sobre qualidade de projetos, mas a peneira que separa os projetos bons dos ruins é á do voto, então sempre deve ter como base de qualidade os votos, logo, quando um projeto não passa pelo crivo do voto ele tem muito mais chances de ser desaprovado do que um projeto ruim que passou pelas urnas.

É complicado entender isso, mas a questão é que a maioria das pessoas apoia os governantes que elas elegeram até o fim, e aqueles que se oposicionam a ele também o fazem até o fim, mas quando o sujeito não é eleito à chance de todas as massas populares se virarem contra ele é muito maior, já que ninguém tem relação ideológica-eleitoral com aquele sujeito.

Um bom exemplo é os caminhoneiros que hoje encabeçam o movimento contra Michel Temer: apoiaram a entrada de Michel Temer, porém como não tem ligação ideológica com ele, hoje são a representação dos movimentos que lutam pelo fim do “Mandato” do atual presidente. 

A democracia demanda eleições constantes e limpas, além do respeito ao resultado das mesmas, pois todas as vezes que passamos por governos que não foram eleitos, como o de Michel Temer e em casos mais profundos como o dos militares, as implicações desses mandatos foram devastadoras.

Ainda nos dias atuais são enfrentados problemas decorrentes pela ditadura, período marcado pela destruição das representações populares e que gerou aos brasileiros um sentimento de descrença em relação a classe política, o que era o estopim que os militares sempre se utilizavam para se manter no poder sem ter que atravessar o crivo do voto, sem ter necessidade de ter seu projeto aprovado por um pleito, a repressão na verdade era a política pública mais aplicada e desenvolvida naquele governo.

O governo Sarney se propôs a tentar algumas mudanças, realmente tinha a frente dessas mudanças sujeitos extremamente antinacionalistas e de pouca preocupação social e que tinham mais interesses pessoais no governo do que realmente uma missão com os famélicos da nação, mas o fato de Sarney não ter sido eleito, e ter assumido um mandato galgando sobre o sarcófago de Tancredo Neves aprofundava ainda mais a desconfiança do povo diante de suas medidas, promovendo assim um governo também desastroso.

Platão disserta que a democracia é o pior tipo de governo que existe, mas é o melhor que a humanidade já teve acesso, e essa é uma realidade que todos que são expostos as ciências sociais aplicadas muito claro, pois com todos os seus defeitos, a democracia transmite confiança quando ela é o motor principal de qualquer projeto de governo que busque ser um projeto novo de estado e de reestruturação popular.

Portanto, todo projeto deve ser aprovado pelo voto para ter estabilidade enquanto o mesmo estiver em vigor, pois sem apoio popular nenhuma ação de governo consegue virar ação de estado e prosperar promovendo o desenvolvimento do país ou qualquer espaço para o qual ele foi eleito. 



“Não se iluda comigo, leitor. Além de antropólogo, sou homem de fé e de partido. Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por um fundo patriotismo. Não procure, aqui, análises isentas. Este é um livro que quer ser participante, que aspira a influir sobre as pessoas, aspira a ajudar o Brasil a encontrar-se a si mesmo” (Darcy Ribeiro, 2001, p. 17).







Por: Júnio Matheus da Silva Cruz

sexta-feira, 25 de maio de 2018

QUAIS SERÃO OS IMPACTOS DO “NOVO” ENSINO MÉDIO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA?


A partir de 2019, as escolas públicas no Brasil passam a organizar sua estrutura educacional e pedagógica referente ao chamado de “novo” ensino médio. Porem algumas questões sobre o mesmo não são claramente detalhadas nos diversos espaços informativos sobre a construção do projeto, a proposta e seus possíveis impactos na educação brasileira.

Neste trajeto descritivo é importante entender que a proposta advém paralela a construção democrática realizada pelo Plano Nacional de Educação PNE e ao mesmo tempo organizado dentro da administração pública no período do golpe imposto ao país a medida provisória MP 746/16 e posterior a lei 13,415/17 alterando a Lei de Diretrizes de Base da Educação LDB apresentada para a sociedade em 1996, em especial com prefácio do então parlamentar e educador brasileiro Darcy Ribeiro.

É evidente que todo este arcabouço legal nos explicita reflexões que vão de desencontro com o que entendemos sobre a Democracia, mas a propaganda sobre o “novo” ensino médio já se desvincula da antiga LDB, como os valores democráticos e constituídos desde a sua base social até a gestão educacional. O ar avançado e tecnológico, a necessidade de trazer para a educação os paradigmas da modernidade aos estudantes são equivocados quanto a realidade brasileira.

Sobre a proposta por exemplo de trazer 40% dos conteúdos à Distância na modalidade EaD, ou mesmo para a Educação de Jovens e Adultos sendo possível 100% do conteúdo à distância não daria jamais de refletir sobre o uso da internet no país. Segundo os dados do IBGE sobre o PNAD que trata da amostra domiciliar em 2016, aproximadamente 40% da população brasileira não tem acesso à internet. De acordo as pesquisas do IBGE, os dois motivos mais apontados foram: não sabiam usar ou ter acesso em casa (37,8%) e não tinham interesse (37,6%), e abrangeram praticamente o mesmo percentual das 63,35 milhões de pessoas que não usavam a Internet no período. Entre as localidades, os municípios de pequeno porte demográfico e também as regiões mais pobres das grandes cidades.

A contradição está em especial no conteúdo, que pode ser o que é chamado na reforma como facultativo, como a filosofia, sociologia ou mesmo história, biologia e geografia. Estes são em sua grande parte disciplinas curriculares que estão ligadas aos trabalhos em grupo, diálogo em coletividade e mesmo a oportunidade de trazer ao estudante a interpretação entre o texto e a realidade.

O que teremos ao ensino médio, de acordo com o site do Ministério da Educação MEC é uma cobrança das atividades de Língua Portuguesa e Matemática, que de forma isolada não dão conta por si da formação humana.

É importante também ressaltar que o governo federal anuncia a possibilidade de aumento da educação em tempo integral, mas na leitura da lei que dispõe sobre o “novo” ensino médio o tempo integral está vinculado ao EaD e atividades complementares que em parte são voltadas ao mercado de trabalho (num país de 14 milhões de desempregados) ou mesmo na Escola (a mesma que pós PEC95 não receberá um aumento significativo de recursos públicos até 2036).

Uma outra grande questão sobre o novo ensino médio é a precarização do/a trabalhador/a da educação. O mesmo para a grande maioria das atividades ou disciplinas não necessariamente precisam estar habilitados, trazendo um perigoso olhar do senso comum e uma profissionalização da educação brasileira. A fragilidade e possibilidades formativas passam pela valorização das/os profissionais que estão ministrando as aulas. Contudo o olhar neoconservador e liberal do governo golpista de Michael Temer não se preocupa com esta qualidade.

O impacto na sociedade através do sucateamento da educação brasileira, em especial, será em uma sociedade cada vez mais consumista, intolerante e que acredita no sentido do mérito pelas conquistas que na prática são coletivas. Não se pode pensar uma politica pública que dialogue sobre a exceção e não a regra.

É momento de lutar e resistir, como ensina Paulo Freire: Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

--
Leonardo Koury Martins – Assistente Social, Professor e Militante da Frente Brasil Popular

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Governo Temer tenta mais uma vez convencer sobre o golpe na primeira infância e sucateia a assistência social


Aconteceu hoje (18) a visita do Ministério do Desenvolvimento Social MDS ao estado de Minas Gerais para dialogar com a população e conselheiras/os do Conselho Estadual de Assistência Social CEAS-MG sobre a adesão do programa Criança Feliz. 

De acordo o material apresentado pelos representantes do Ministério, a primeira infância faz do carinho e cuidado sendo que segundo “pesquisas” as crianças e mães pobres, assim como suas famílias podem estar sendo afetas no seu entendimento cognitivo e neurologia pela falta deste “carinho”. Neste sentido o Governo Federal reduziu o orçamento das políticas sociais e lançou da alternativa de criar novos programas como o Criança Feliz. 

Entre as falas os Conselhos de Psicologia, Serviço Social e mesmo o COGEMAS reiteram a posição de ser contrário a adesão ao programa. Desde a sua criação o que foi debatido em comum é a ausência de espaços de participação na elaboração de sua proposta e descumprimento das deliberações das conferências e espaços de pactuação. 

Culpabilizar as mães pela pobreza não pode ser uma diretriz de um programa social. A falta de carinho e cuidado não são causadoras da pobreza e sim a desigualdade social, que pós 2016 se amplia, trazendo milhões de desempregadas/os, retração dos investimentos no Serviço Público e no contraponto aumento de isenções tributárias e fiscais às grandes empresas privadas no país. 

Promover a infância e a juventude é garantir mais direitos, que só se faz com justiça, democracia e igualdade em condições.

sábado, 5 de maio de 2018

200 anos de MARX


Há exatos 200 anos, em uma família judia de classe média da Renânia, a sudoeste de uma Alemanha dividida, atrasada e despótica, nascia Karl Heinrich Marx. Poeta apaixonado quando jovem, filósofo por formação, revolucionário profissional, político e organizador, matemático amador, fumante compulsivo, suas ideias definiram em grandes linhas a história da humanidade ao longo do século 20 e até hoje. Marx não inventou nem descobriu a luta de classe, mas a explicou de uma maneira que ninguém jamais havia feito antes. 

Por detrás dos conflitos aparentemente acidentais entre patrões e empregados, escravos e senhores, servos e nobres, Marx viu profundas bases materiais, poderosas forças econômicas e sociais: a luta pelo controle sobre as riquezas extraídas da natureza e transformadas pelo trabalho humano. E o mais importante: deu a esses conflitos um sentido, um objetivo, formulou um programa, uma saída, um meio de superá-los. 

Marx também não inventou o socialismo, que já existia como corrente filosófica e movimento político muito antes dele. O que Marx fez foi dar ao socialismo bases científicas. Transformou um sonho romântico em um objetivo alcançável. Em meio aos diferentes conflitos das diferentes classes sociais, Marx identificou que a classe dos trabalhadores assalariados, por não possuir nenhuma propriedade e por ser encarregada de mover, com seu trabalho, a gigantesca roda do capital, concentrava em si todas as explorações e todas as opressões de todas as outras classes exploradas e oprimidas. 

E que por isso a sua libertação do jugo do capital acarretaria a libertação de toda a humanidade. Ao contrário do que se diz, Marx não era economista, mas sim um crítico da economia. Sentou-se durante 20 anos em um gabinete úmido e mal iluminado para provar ao mundo que a assim chamada “ciência econômica” não passava de ideologia. Que por detrás das fórmulas impessoais dos economistas, o que havia era trabalho humano, suor e sangue. Nessa busca, Marx desvendou o verdadeiro mecanismo da exploração capitalista: ao oferecer uma certa quantidade de dinheiro ao trabalhador em troca de uma certa quantidade de horas de trabalho, os capitalistas arrancavam dos trabalhadores uma quantidade de riquezas muito maior do que aquela que pagavam na forma de salário. Era um “valor a mais”, que Marx chamou de mais-valia ou mais-valor. 

Não havia nenhuma liberdade na relação capital-trabalho. A igualdade jurídica entre patrões e empregados escondia a desigualdade real entre despossuídos e possuidores, mascarava a obrigatoriedade dos trabalhadores se submeterem à exploração para não morrerem de fome. Marx não se contentou em explicar o mundo. Ele queria transformá-lo. Construiu partidos, uma associação internacional, organizou, ensinou, escreveu, agitou, conclamou. Atacou governos, políticos, papas e generais. Abriu mão de uma confortável cátedra em sua universidade natal. Pagou o preço. 

Foi exilado e perseguido. Morreu pobre, mas com sua honra intacta. Seus últimos dias foram particularmente difíceis. A morte da esposa amada com um câncer doloroso. Marx morreu deixando para trás uma obra impossível de ser medida, um conjunto grandioso de ideias tão poderosas quanto eternas. Marx morreu no dia 14 de março de 1883, mas – coisa estranha – sua morte foi anunciada milhões de vezes desde então! Sempre é a “morte definitiva”. 

E a cada vez os inimigos da liberdade e do progresso humano comemoram mais e soltam mais fogos. Há algo que não se entende sobre Marx: que suas ideias adquiriram vida própria, que o que ele revelou não pode mais ser escondido porque toda a humanidade caminha exatamente no sentido que ele disse caminhar: para disjuntiva entre a barbárie e o socialismo. 

O mundo mudou muito desde Marx. Mas não os pressupostos de sua teoria: a exploração do capital sobre o trabalho segue sendo a pedra fundamental sobre a qual se erguem todas as maravilhas e todas as desgraças da espécie humana. O socialismo segue vivo nas ideias de Marx e na luta da classe trabalhadora do século 21. Diz um ditado espanhol “los muertos que vos matáis gozan de buena salud”. Assim é Marx. 

Anunciem a sua morte! Toquem as trombetas! Não importa. Nascido há 200 anos, ele segue vivo, e goza de perfeita saúde. 

Por: Esquerda on-line

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Falando sobre classes de forma simples




Por: Leonardo Koury Martins


Quem realmente produz a riqueza? Não há dúvidas seja pelo acúmulo teórico ou pelas experiências práticas de dois séculos do modo de produção capitalista.


Quem produz a riqueza que vem das fábricas e do campo?

Os operários e operárias que em seus postos de trabalho atuam constantemente. Não é diferente as situações das lojas dos comércios em que as vendedoras e vendedores se desdobram
para vender o que está ali exposto. Das lanchonetes das periferias, no serviço público e até mesmo nas empresas de comunicação.

Quem vive de salário é trabalhador, é trabalhadora. Diretores de empresas, chefes de repartição não são patrões. São também funcionários, que vendem sua força de trabalho.

Em resumo, quem trabalha é a classe trabalhadora.

Mas não é ela quem fica com a riqueza. Por quê? A resposta está na diferença entre tudo que se gastou para produzir e o total do que se vendeu. O excedente é o que se chama mais-valia.

Essa diferença fica para os patrões, que engana o povo trabalhador oferecendo o salário como recompensa pelo trabalho produzido. O salário é apenas parte, e uma parte pequena, da riqueza produzida pelo trabalhador.

Precisamos ter a consciência que o dono de uma rede supermercados, o patrão (não estamos falando do gerente este é o trabalhador também) em nenhum momento esteve no caixa, no estoque ou mesmo cultivando legumes e hortaliças.

Enquanto escrevo este singelo texto, meus patrões (a burguesia) voam possivelmente para a Suíça com vistas de aproveitar o inverno europeu. Trabalharam muito? Férias? Não. Apenas contratam quem administra nossas vidas e suas riquezas que foram produzidas por nossas mãos.

A consciência é o momento em que paramos de competir pela vaga do trabalho do outro, de julgar os colegas, de compreender que todas as dores ali têm uma causa. Esta causa a cada dia se torna mais esquecida pela alienação. A alienação é o Alzheimer social que nos deixa a cada momento mais distante de romper com a possibilidade de termos um futuro livre.

Ah! A liberdade.

Para os ricos, nossa liberdade tem o preço de sua morte econômica, mas para nós, a nossa liberdade tem o preço de não mais ter preço. A vida e a liberdade não têm preço.

*Leonardo Koury Martins é professor, assistente social e militante na Frente Brasil Popular

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

As 12 vitórias de Maduro em 2017 destacadas por Ignacio Ramonet



O jornalista e analista político Ignacio Ramonet destacou nesta segunda-feira (1º), em um artigo opinativo, 12 triunfos obtidos em 2017 pela Revolução Bolivariana, liderada pelo presidente Nicolás Maduro. Ramonet assinala que o mandatário venezuelano confirmou assim que continua sendo, como dizem seus seguidores, “indestrutível”.


Leia aqui no Teoria Versus Prática os 12 triunfos descritos por Ramonet:


1 – Exercícios de Ação Integral Anti-imperialista Zamora 200, manobras cívico-militares organizadas pelo presidente Maduro em 14 de janeiro, com a finalidade de enfrentar o golpe parlamentar promovido pela direita. Na atividade participaram 578.230 homens e mulheres entre profissionais da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb), milicianos e movimentos sociais.

2 – Massiva participação do povo em 23 de janeiro ao chamado que Maduro fez a uma marcha para conduzir os restos mortais de Fabrício Ojeda ao Panteão Nacional, no mesmo dia em que se realizava uma manifestação da oposição.

“Pôde-se ver claramente como o chavismo popular domina as ruas, enquanto que a oposição exibia suas divisões e sua fraqueza extrema”, expressa Ramonet.

3 – Solidariedade diplomática da maioria dos Estados latino-americanos e caribenhos, frente à campanha de ingerência contra a Venezuela, assim como os constantes ataques desde a Organização de Estados Americanos (OEA) respaldados pelos setores mais extremistas da oposição e dirigentes políticos de direita na América Latina.

Depois desta constante ingerência por parte da OEA, a Venezuela decidiu em abril iniciar o processo de retirada dessa organização.

4 – Convocação, eleição massiva e instalação da Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Diante do chamado que o mandatário fizera em 1º de maio do ano passado, mais de oito milhões de venezuelanos respaldaram a instalação da ANC, com a finalidade de garantir a paz e derrotar as ações violentas perpetradas pela oposição entre abril e julho, ações violentas que deixaram um saldo de mais de 120 mortos e mil feridos.

“No dia seguinte, como havia vaticinado o presidente, as ‘barricadas’ se dispersavam, a violência se desvanecia, a paz voltava a reinar (…) O presidente Maduro conseguiu desse modo derrotar as ‘barricadas’ e abortar a evidente intentona golpista”, enfatizou Ramonet em seu artigo.

5 – Vitória eleitoral de 15 de outubro nas eleições regionais, em que 18 dos 24 governos do país passavam às mãos da Revolução Bolivariana, e em 10 de dezembro se somou o de Zúlia.

6 – Triunfo nas eleições municipais de 10 de dezembro, com a obtenção de 308 prefeituras do total de 335 – 93% dos municípios do país -. A Revolução Bolivariana obteve a maior vitória que uma força política já recebeu na história da Venezuela, “enquanto que a contrarrevolução confirmava sua impopularidade com uma queda vertical de seus eleitores, perdendo mais de dois milhões e 100 mil votos”.

7 – Criação da comissão para consolidar o refinanciamento e a reestruturação da dívida externa, anunciada em 3 de novembro, com o propósito de superar as agressões financeiras. Depois do anúncio, o Governo Nacional se reuniu com um grupo de credores da dívida venezuelana procedentes dos Estados Unidos, Panamá, Reino Unido, Portugal, Colômbia, Chile, Argentina, Japão e Alemanha.

8 – Diante do bloqueio para adquirir medicamentos, o presidente concretizou, também em novembro, a chegada ao país de importantes carregamentos de insulina procedentes da Índia.

9 – A criação da moeda digital Petro, criptomoeda que estará lastreada pelas reservas energéticas e minerais da nação, contribuirá com o processo de recuperação e relançamento econômico em 2018, ao fortalecer o sistema financeiro, contrapor-se ao bloqueio à nação e aceder a novas formas de financiamento internacional.

10 – Avanços sociais através do Carnê da Pátria, que permitiu fortalecer toda a política de proteção ao povo das missões e grandes missões impulsionadas pela Revolução Bolivariana, com programas que abordam diretamente os setores mais vulneáveis do país.

11 – Grande ofensiva contra a corrupção no setor petroleiro.”Nada parecido havia ocorrido em cem anos da indústria petroleira venezuelana. Esta foi sem dúvida a vitória mais comentada do presidente Maduro nos finais de 2017″, diz Ramonet.

Desde agosto de 2017 foram feitas 69 prisões, que incluem 18 altos cargos dentro da Pdvsa e no Ministério do Petróleo. Entre eles destacam-se as ordens de apreensão contra Rafael Ramírez, ex-ministro do setor e ex-titular da Pdvsa durante 10 anos; de Eulogio del Pino e Nelson Martínez, também ex-presidentes da estatal.

12 – Fazer com que a oposição se sente à mesa de diálogo. “Desta vez no cenário neutro da República Dominicana, sobre a base do respeito e do reconhecimento mútuo (…) Semelhante avanço rumo à paz foi talvez a mais apreciada vitória do presidente”, ressalta Ramonet.

Desde 2013, o presidente Maduro fez 338 chamados ao diálogo e à paz. Somente em 2017 fez 269 convites à oposição venezuelana para encontrar uma solução aos problemas, pela via do diálogo permanente e do estabelecimento de um acordo mínimo de convivência, sendo estes 11 e 12 de janeiro uma nova jornada de diálogo para a paz.

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo