domingo, 23 de março de 2008

Utopias vermelhas e construções ao céu

Luz vermelha do alto do céu,
Porque trás a mim uma vaga lembrança?
Símbolo do amor ou de esperança?
Nem mais sou criança.
A luz vermelha, no auge dos ensinamentos,
Das histórias e de um futuro de revolução,
Agora em meu peito não vem com tanto tesão,
Depois de conhecer a natureza humana
Virou apenas ilusão,
Mas não abandono tal vermelhidão.
Os homens, a natureza que guia estes,
Hoje, egoísmo, prédios e coletes,
Nada mais de música, calou-se a canção.
Alguns a espera do sim,
Outros a eterna certeza do não,
Um amor que vira,
Ou a espera em vão.
E descanso no colo de minha mulher,
Para mim o amor vence a razão,
De que adianta as certezas de um terno
Se as utopias não morrem no meu coração,
Ao contrário, me ajudam a cantar,
E a caminhar cantando a canção,
Com orgulho no peito,
E toda vermelhidão,
A luz era um sinalizador de edifícios,
Isso para quem quer ver com os olhos da razão,
Mas para mim que enxergo mais longe,
Com a visão de esperança, pode ser um sinal,
Que ainda por mais anormal que pareça
Busco em uma simples luz,
O sinal da revolução,
Sonhos para quem tem procurado a justiça
Nunca são em vão.



Leonardo Koury Martins

quinta-feira, 20 de março de 2008

A juventude de ontem e hoje

Há séculos discute-se uma classificação etária para o jovem. No início das grandes civilizações, não existia basicamente uma fase juvenil, passava-se da fase criança para a fase adulta.

Em outros tempos, era criada uma fase de preparação entre a infância e a fase adulta como por exemplo jovens de tribos africanas tinham que demonstrar nesta fase bravura e força, àqueles que não demonstravam tais potencialidades eram afastados e ignorados pelos mais velhos do grupo.

Ao longo dos séculos a juventude foi ganhando um perfil diferenciado, na Revolução Industrial, o jovem ganhou um papel estudantil, mas também um papel de submisso em relação ao adulto. Sua militância era regiamente acompanhada pelos mais velhos.

No final do século XIX e no início do século XX, principalmente na segunda década, o jovem começou a requerer seu status de liberdade em relação aos adultos. Com uma fase quase estabelecida entre a fase criança e a fase adulta, o jovem começou a ter um papel transformador na sociedade. Na verdade, os grandes líderes e personalidades se iniciaram quando jovens a vida social, mas na década de vinte do último século, os movimentos juvenis tomaram grande proporção na sociedade. A UNE (União Nacional dos Estudantes) incensando peças teatrais com tema social nas portas das fábricas e nas manifestações como O petróleo é nosso marcaram tal organização juvenil nas mudanças da sociedade.

Nos anos cinqüenta aos anos oitenta, uma parcela da sociedade lutou pela democracia e contra a ditadura, mas uma grande parte dos jovens em um sentimento inicial narcisista começou a preferir reuniões menores do que as grandes assembléias, trocaram as grandes manifestações da época por eventos culturais que não eram censurados, mesmo assim alguns músicos levavam suas ideologias mascaradas nas letras musicais.

Essa acomodação continuou nos anos noventa, o Fora Collor era organizado pelos movimentos sociais, mas levavam em sua maioria um público não politizado, sem rumo próprio, o sentimento ideológico passou a ser exclusivo de alguns poucos jovens.

As organizações juvenis se diversificaram, os jovens que lutavam pela democratização do país, deixa a cultura política para seus filhos. As ONG’s juvenis começaram a discutir também tecnologia e meio ambiente, isso ajudou também no crescimento das discussões sobre política públicas para a juventude.

O desafio atual é começar a instituir políticas públicas para a juventude, pois o direcionamento de tais políticas públicas que hoje atingem o jovem são na verdade políticas públicas para as classes mais baixas e não basicamente para a juventude.

O jovem não é o problema social e nem mesmo o futuro, mas sim ele é o agente construtor e o presente, o estudante, o trabalhador, aquele que mata e que morre, não pode ser tratado com políticas secundárias, este é o sentimento que move a vontade de construir políticas públicas para a juventude.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Discurso, cotas, cores e desigualdade racial


De todos os discursos, os que falam de “desigualdades”, o que percebo mais justo em nosso país, (não em uma relação hierárquica aonde existe prioridades no ramo da desigualdade) no sentido de tomada de espaço e consciência é o discurso da desigualdade racial.

Alguns brasileiros não conseguem fazer a leitura histórica de mais de trezentos anos de escravidão em território nacional, esquecem até mesmo dos dias atuais e das condições precárias que a maioria da população negra se encontra meio ao preconceito e demais formas de opressão gerados pelo capitalismo como a fome e a falta de condições sociais.

O discurso que não existe preconceito racial é tão bem arquitetado entre os brancos dominantes e alguns negros de cabeça branca como diria Malcolm X, que em algum momento chego a acreditar que venho a cometer injustiças por colocar o negro em uma situação desprivilegiada no quesito social.

O discurso hipócrita como exemplo que as cotas universitárias para negros em universidades públicas é uma forma de preconceito, de “novo apartheid”, me faz lançar a todos aqueles que se vestem destes dizeres algumas perguntas: Quem está com a maioria dos bancos docentes, brancos ou negros? Quem é chamado de mulato (na escravidão mulato era o filho de uma negra “mula” com um homem branco “anta”, dando um ser nem negro e nem branco, bastardo e rejeitado pela família paterna), este que se acha branco para fugir das piadinhas racistas, que se cria uma casta clara virtual para se defender das agressões dos “indivíduos mais claros”. Quantos estudantes negros existem nas universidades públicas? É questão de mérito ou de problemas históricos a falta do negro nos espaços de poder?

Aproveitando as perguntas, venho com outros questionamentos do porque da preferência entre meninos brancos nas adoções? Porque de dizer “este negro é lindo”, será que existe negro feio e negro lindo enquanto o branco não tem esta subdivisão? Porque o negro é subdivido em mulato, escurinho, clarinho, moreninho, isso para não falar da chacina em Ruanda gerada pela subdivisão dos negros fomentada pelos próprios europeus brancos. Este tipo de política existe até hoje no mundo para vender armas, vejamos os últimos vinte anos quando falamos de Serra Leoa, Congo e o pacifico americanizado Quênia. Sem falar na atitude americana de criar a Libéria!

Mesmo não generalizando, o gosto das “loiras” namoradas dos jogadores de futebol, dos artistas musicais, das personalidades negras, mas se você é um negro pobre e tenta puxar conversa com estas mesmas “loiras” na rua pode ocorrer o equivoco de ser confundido com um tarado ou até mesmo com um ladrão.

Para alguns é muita coincidência de que a maioria das periferias do Brasil morem negros, como antes dito, não é importante para os brancos fazer uma análise fria sobre escravidão e pós-escravidão no Brasil, tudo é um mero contexto social, agora se o branco sair de terno da favela e dirigir um carro importado a meia noite e ser parado por uma blitz policial, este será chamado de doutor. Já o negro com o mesmo terno e o mesmo carro importado, parado na mesma blitz pode ser inicialmente o motorista ou até mesmo em condições mais extremas como o ladrão do carro qual este dirigia antes da blitz.

Martin Luther King, um grande mobilizador e pioneiro nos Estados Unidos na luta pelos direitos civis, relata em seus escritos de que quando pequeno não entendia o porque de sentar em um lugar diferente no ônibus em Atlanta e nós aqui no Brasil ainda também não entendemos o porque da dificuldade de se conseguir emprego como recepcionista quando se é negro.

A dinâmica da desigualdade racial é interligada com a hipocrisia de um povo que um dia justificou na cor da pele a falta de capacidade de pensar e daí veio à escravidão tanto no Brasil quanto em grande parte do mundo, afinal já que estes não tinham capacidade de pensar como os brancos, poderiam ser vistos como animais, vendidos no pelourinho ou por quanto vale ou por quilo.

A tomada de consciência, conceito marxista, deve ser um objetivo claro dentro dos movimentos que trabalham com a identidade negra. Afirmar a negritude como no Movimento Panteras Negras nos anos setenta e oitenta era uma grande oportunidade de aumentar a estima e politizar este que sofre cotidianamente pela descriminação racial.

Termino lembrando uma frase da música Voz Ativa dos Racionais MC’s que falava “O carnaval era a festa do povo, era... mas alguns negros se venderam de novo. Brancos em cima, negros em baixo. Ainda é normal, natural 400 anos depois, 1992 tudo igual. Bem-vindos ao Brasil colonial”.


Leonardo Koury Martins

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo