domingo, 18 de agosto de 2013

A importância do Black Bloc no Brasil




A algum tempo ando lendo críticas severas a uma forma de organização que vem tomando as ruas no Brasil, porem fazem já parte do cotidiano das lutas sociais em várias partes do mundo. Diferente de muitos comentários lidos, resolvi estudar e compreender desde a primeira manifestação que vi @s companheir@s de preto e mascarados nos anos noventa. Percebi que o Black Bloc, não necessariamente era uma seita ou organização político partidária como também não necessariamente tod@s presentes em uma manifestação teriam a mesma direção e coordenação de ações.

Li de um amigo, mais recentemente, que estes "marginais desocupados" como foram chamados, não tinham importância e eram desocupados por acampar e ocupar as vias públicas. Este comentário me entristeceu, pois este mesmo amigo na sua juventude tinha as mesmas posturas revolucionárias, não apenas ele mas os movimentos sociais que ocupavam as cidades cobrando mudanças sociais.

Ao ler, tamanha desobediência com a história da luta popular, senti a necessidade de responder sobre a importância dos tais "desocupados".

@s militantes que constituem o Black Bloc apenas ocupando o que os movimentos sociais tradicionais em grande parte deixaram de ocupar, muitos desaprenderam a sair às ruas! Os Ocupa Cabral ou Ocupa Câmaras e prefeituras em todo país emerge de um sinal, respondendo que está faltando como a participação popular, a transparência, que os governos estão destoantes com as necessidades do povo. 

A grande maioria das pessoas quando assistem os telejornais, olham as manifestações na frança e acham lindas e politizadas, porem tem criminalizado as mesmas manifestações ocorridas no Brasil. 

Identidade a parte, os Black Bloc existem na ideia de que tod@s ali marcarad@s são uma grande coletividade, sem diferenças e obviamente com a necessidade de não serem identificados pela polícia, mas suas marcas e protestos são pela coletividade e não pelo interesse individual, que se faz característico na cultura do Capital. 

Estes militantes não são de Direita, são em grande número militantes anarquistas como alguns também militantes de esquerda, porem jamais apolíticos. Criminaliza-los é contribuir com que menos pessoas estejam nas ruas lutando, é  simplesmente criminalizar as lutas sociais. Como diz um ditado Yankee, "Esquerda dividida é Direita feliz". 

Não choro pelo MC Donald ou pelos bancos quebrados, afinal a revolução dispõe a luta de classes e os donos destes empreendimentos de nada representam o povo. Aprendi na vida sindical que não devo reclamar do trânsito parado, pois todos os dias existem milhares de quilômetros de engarrafamentos, e são mais legítimas as manifestações do que o trânsito parado pela falta de consciência ambiental, pelo consumismo e a falta de políticas de mobilidade urbana. 

Chico Science já cantava nos mangues do nordeste onde muitos dançaram porem poucos o ouviram quando dizia: que eu me organizando posso desorganizar. Viva a resistência e a luta popular!



Leonardo Koury Martins  Escritor, Assistente Social e Militante do Movimento de Ação e Identidade Socialista - MAISPT

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Onde está Amarildo? Onde estão os “desaparecidos”?

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"Se a prática de fazer desaparecer corpos/pessoas foi um método de repressão da ditadura, permanece hoje como uma técnica de governar pessoas, grupos e territórios"


O desaparecimento do pedreiro Amarildo Souza Lima, após abordagem dos policiais da UPP da Rocinha, não é um fato isolado. Ele voltava de uma pescaria quando foi levado pelos policiais para averiguação e desde então jamais reapareceu. Policiais alegam que após o depoimento Amarildo foi liberado, porém sua esposa afirma ter visto os policiais colocarem Amarildo dentro de uma viatura policial. O desaparecimento ocorreu no dia 14 de julho de 2013. São muitos os desaparecidos no estado do Rio de Janeiro e Brasil afora.

Acabo de realizar uma pesquisa acadêmica sobre o desaparecimento forçado de pessoas. Encontrei vários casos similares. São muitos os Amarildos desaparecidos na região metropolitana do Rio de Janeiro. Cada favela, periferia, subúrbio, tem suas histórias de pessoas desaparecidas. Seria interessante construir uma geografia ou cartografia dos desaparecimentos. O caso de Izildete, ex-moradora de Queimados, Baixada Fluminense, é mais um que vem somar às estatísticas e compor o mosaico dos desaparecidos. Seu filho Fábio Eduardo Soares Santos de Souza é mais um que desapareceu após uma abordagem policial, ao sair de uma festa em um bar. Em outro caso, uma moradora de uma conhecida favela conta que seu filho desapareceu junto com outros doze rapazes, numa ação em que traficantes teriam alugado o caveirão da polícia para invadir uma favela rival. Segundo o relato dessa mãe, durante as investigações foram encontradas ossadas, sangue, roupas, partes dos corpos como dedos, etc.. Essa mesma mãe sugeriu que, caso se deseje investigar os desaparecimentos, um bom início poderia ser a drenagem de todos os rios da região metropolitana do Rio de Janeiro, que muito provavelmente estão cheios de cadáveres.

Na zona oeste, numa área próximo a Campo Grande, uma mãe teve seu filho desparecido e após meses, depositaram uma ossada dentro de um saco preto no portão de sua casa. Era a devolução dos restos mortais de seu filho. Nesse caso, os acusados pelo homicídio e ocultação de cadáver eram milicianos. Há outros casos em que familiares encontraram apenas partes dos corpos como cabeça, pé... os corpos são muitas vezes esquartejados.

É possível pensar, nesse sentido, em escalas de desaparecimento. Algumas vezes consegue-se encontrar vestígios dos desaparecidos, em outras consegue-se encontrar partes do corpo, em outras o que se tem são apenas os rumores, o “ouvi dizer”. A rotina dos familiares passa a ser peregrinar por delegacias, Institutos Médicos Legais, hospitais, bocas de fumo. Onde houver informações sobre um morto ou um desaparecido, lá estão os familiares buscando esclarecimentos.

Há que se lembrar do caso mais emblemático de desaparecimento forçado pós-ditadura, trata-se da Chacina de Acari, em julho de 1990. Nesta ocasião, onze jovens moradores da favela de Acari e seu entorno teriam sido sequestrados por um grupo de extermínio, formado por policiais, conhecido por Cavalos Corredores. Os jovens jamais apareceram para contar o que se passou. A luta das mães dos jovens ficou conhecida internacionalmente e foi inovadora ao abrir o caminho para uma nova forma de ação coletiva e protesto político contra a violência estatal. As mães ficaram conhecidas como Mães de Acari e só muito recentemente, quando algumas já haviam morrido ou encontavam-se em processos graves de adoecimento, começaram a ser emitidos os primeiros atestados de óbito. No atestado de óbito, o documento oficial emitido pelo Estado, consta causa mortis “ignorada”, e no local de falecimento está escrito “Chacina de Acari”.

O desaparecimento de pessoas compreende uma variedade de tipos, situações e circunstâncias, mas é possível afirmar que parte dos casos é composta por desaparecimentos forçados, muitos, como mostra o próprio caso Amarildo, envolvendo integrantes das forças policiais. Há desaparecimentos forçados que ocorrem durante operações policiais oficiais e outros em situações extraoficiais.

Os casos por mim pesquisados indicam a participação de “policiais”, “milicianos” e “traficantes” em casos de desaparecimentos. Sendo possível sugerir que há uma espécie de divisão do trabalho, em alguns casos, entre esses atores, no ato de desaparecer corpos. Pode-se também dizer que há uma espacialização dos desaparecimentos forçados, ou seja, eles ocorrem majoritariamente, nos territórios da pobreza, sendo os jovens do sexo masculino as principais vítimas.

As possibilidades de tematização e enquadramento da problemática do desaparecimento de pessoas são múltiplas, sendo que, nos embates e disputas pelos usos destas categorias, ora o desaparecimento aparece construído como um “problema de família”, ora como “problema de segurança pública”, outras vezes ainda como “problema de assistência social”.

As categorias desaparecido e desaparecimento são categorias em disputa, e seus significados estão diretamente associados à pluralidade de vozes que falam, ou deixam de falar, sobre o assunto, envolvendo familiares, autoridades públicas, pesquisadores, movimentos sociais, mídia, entre outros atores.

Recentemente, o assunto tem despertado o interesse crescente de pesquisadores que vêm produzindo diferentes olhares e perspectivas sobre essa questão. A trajetória do debate sobre o tema, no Brasil, poderia ser enquadrada em dois contextos históricos: o primeiro refere-se ao desaparecimento político, e o segundo diz respeito à forma contemporânea marcada por uma diversidade de percepções sobre o assunto. Enquanto o desaparecimento político é compreendido a partir da noção de desaparecimento forçado e reporta-se ao período da ditadura civil-militar, o segundo engloba modalidades diversas e remete-se ao período pós-ditadura.

A figura do “desaparecido” ficou associada nas memórias e na cultura política brasileira à imagem do desaparecimento político e localizada a certo campo de protesto político, aquele referente à luta contra a ditadura. Uma das heranças que ficou do regime militar foi a polícia militar e todo um conjunto de práticas autoritárias e violadora dos direitos civis mais básicos, por exemplo, a inviolabilidade do corpo e a integridade física. Essas práticas autoritárias, importante ressaltar, estão arraigadas não apenas na polícia, mas de maneira estrutural na sociedade brasileira, indo desde as relações afetivas às institucionais. E se a prática de fazer desaparecer corpos/pessoas foi um método de repressão da ditadura, permanece hoje como uma técnica de governar pessoas, grupos e territórios.

O desaparecimento forçado de pessoas corresponde atualmente a um dispositivo de governo-gestão. E há, por um lado, no plano dos perpetradores, um campo de continuidades, que envolve polícia/milícia/“traficantes”. Por outro lado, há um universo de vítimas possíveis que têm em comum sua vulnerabilidade a esse dispositivo de gestão, pela combinação de variáveis territórios/condição social/atividade/suspeição.

O ato de desaparecer corpos – enquanto prática-evento –, fornece um denominador comum para atores que geralmente são colocados como distintos ou mesmo antagônicos. Esses atores se movimentam ora “colaborativamente” ora em disputa, mas compartilham de certos pressupostos comuns (por exemplo, que algumas pessoas sejam desaparecidas/“desaparecíveis”).

E a pergunta permanece: onde está Amarildo? Onde estão os milhares de Amarildos “desaparecidos”?


Fábio Alves Araújo é doutor em Sociologia/UFRJ, professor do IFRJ. É membro da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência.

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo