sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Irã, armas por quê? Soberania para que? Uma pequena análise de conjuntura.

Nos últimos anos ouvimos dizer sobre o crime humanitário que os iranianos vêem cometendo na produção de armas nucleares ou enriquecimento de urânio para fins pacíficos.

Porem ao mesmo tempo a grande mídia aliada ao pensamento capitalista traz apenas dizeres norte-americanos entre outros países aliados dos estadunidenses que levam em consideração a preocupação com o bem estar da humanidade.

Daí começa a levantar algumas questões fundamentais sobre o porquê do fortalecimento bélico e o para que sirva da soberania de uma nação.

Se formos levar em consideração a história da soberania, de acordo com Jean Bodin, soberania refere-se à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna. É o fortalecimento e independência de algo ou alguém sobre algo ou alguém. É a forma mais límpida de dizer que um país possa representar pelos seus ideais e interesses, buscar de sua forma resolver suas questões internas e expressar externamente sobre suas decisões qual interessam primeiramente a sua população residente.

Portanto este conceito é o tempo inteiro descartado quando falamos dos inimigos do governo estadunidense, desde que sua soberania se subalterne a americana qualquer país pode pensar em comer como quiser, sendo que siga a cartilha liberal.

Para que ser um país se não puder fazer suas próprias escolhas, no fortalecimento da guerra ou na manutenção energética de seu estado constituído (de democracia deixo para a rainha da Inglaterra responder, pois a família real está no poder inglês a mais de séculos).

Portanto pensar políticas de fortalecimento bélico ao Irã é questão de sobrevivência se partir a observar a visão dos analistas internacionais possivelmente mais “neutros” do que da grande mídia, o fenômeno da instabilidade política e militar não está na cota iraniana, sendo que nos últimos dez anos o único país a abrir duas frentes de guerra foram os Estados Unidos.

Não satisfeitos em abrir duas guerras, ainda anunciam publicamente seus inimigos internacionais, propõem sansões econômicas, dialogam com outros países com arrogância, propiciam em seu discurso a falta de boa vontade em relação as questões ambientais, entre outras falácias que a história lembra as armas químicas inventadas para a invasão do Iraque, Guantánamo e seu mausoléu de torturas, o Vietnã, as ditaduras latino americanas. Podemos ser até mais explícitos em porque duas explosões nucleares? Duas em solo Japonês que praticamente estava em desertar da segunda guerra.

A questão não é se armar ou não se armar, pois Zun Tsu dizia que a maior defesa muitas das vezes é o ataque, e por questão de soberania devemos deixar ao Irã decidir o que busca de seu enriquecimento de urânio. Afinal como palavras do último presidente norte-americano, o Irã é declarado publicamente inimigo número um acompanhado da Coréia do Norte e da Palestina, inimigo de um país que nasce dizendo que respira em seu ar a liberdade.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Praia da Estação, protesto revolucionário


A cada dia ganha mais adeptos o movimento conhecido como "Praia da Estação", na qual é palco histórico de diversas manifestações populares e cena pública dos movimentos sociais e do povo belo horizontino.

O DECRETO Nº 13.798 DE 09 DE DEZEMBRO DE 2009 do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, proíbe que aconteça qualquer tipo de evento na Praça da Estação. A pergunta permanece: a quem interessa que os espaços públicos sejam apenas pontos de passagem e consumo?

Porque praças como a praça do Papa (no mangabeiras)e a praça São Francisco de Assis (na lagoa da pampulha) podem ser utilizadas para tais eventos e espaços sociais, sendo que a maioria da população metropolitana do estado muitas das vezes tem acesso (transporte, identidade, familiaridade) com a praça da Estação.

Todos os sábados, um caminhão pipa abastece uma onda de manifestantes que levam suas sungas, seus biquinis, suas boias e demais "apetrechos" para uma deliciosa estada praiana em plena capital mineira.

Protestar é válido, lutar pelo direito de que os locais públicos sejam usufruto de todos é mais válido ainda. As manifestações começam por volta de 10 horas sendo o apogeu quando o caminhão pipa aparece, por volta de 1 hora da tarde. Independente de partido, movimento, ideologia, lutar pelo coletivo é muito importante.

Vale apena aderir a esta idéia.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os pecados do Haiti



Publicado em 15 de Janeiro de 2010 por Eduardo Galeano
tradução livre de Antonio Folquito Verona)


A democracia haitiana nasceu há muito pouco. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e enferma não recebeu nada, além de bofetadas. Estava ainda recém nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de terem colocado e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos pegaram e impuseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que havia tido a louca aspiração de querer um país menos injusto.

O voto e o veto


Para apagar as nódoas da participação norte-americana na ditadura carniceira do general Cedras, os infantes de marinha levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para retomar o governo, mas o proibiram exercer o poder. Seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, porém mais poder que Préval tem qualquer burocrata de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha sequer eleito com um voto apenas.


Mais que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum de seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, instrução aos analfabetos o terra aos camponeses, não recebe resposta, ou o contradizem ordenando-lhe: - Faça a lição! E como o governo haitiano nunca aprende que deve desmantelar os poucos serviços públicos que ainda permanecem, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores acabam sempre por reprová-lo.


O álibi demográfico


No final do ano passado quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Assim que chegaram, a miséria do povo os atingiu frontalmente. Então o embaixador de Alemanha lhes explicou, em Porto Príncipe, qual é o problema: - Este é um país demasiadamente povoado - disse-. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.


E riu. Os deputados se calaram. Essa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou as cifras. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, tanto quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilometro quadrado. Em sua passagem pelo Haiti, o deputado Wolf não apenas foi atingido pela miséria: também ficou deslumbrado pela capacidade de expressar a beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado… de artistas.


Na realidade, o álibi demográfico é mais o menos recente. Até a alguns anos, as potências ocidentais falaram bem mais claro.


A tradição racista


Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando alcançaram seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e revogar o artigo constitucional que proibia a venda de terras aos estrangeiros. Robert Lansing, então secretário de Estado, justificou a prolongada e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de se governar por si mesma, que possui “uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. Uno dos responsáveis pela invasão, William Philips, havia elaborado anteriormente a sagaz idéia: “Esse é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que tinham deixado os franceses”.


O Haiti havia sido a pérola da corona, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com força de trabalho escrava. No espírito das leis, Montesquieu o havia explicado sem travas na língua: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem os escravos para sua produção. Esses escravos são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão esmagado que é quase impossível ter deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma e sobretudo uma alma boa num corpo inteiramente negro”.


Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor. Os escravos não se distinguiam por sua vontade de trabalho. Os negros eram escravos por natureza e vadios também por natureza; e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir ao amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrasse o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de costumes dissolutos”. Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro “pode desenvolver certas habilidades humanas, como o papagaio que fala algumas palavras”.


A humilhação imperdoável


Em 1803, os negros do Haiti ocasionaram uma tremenda derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e Europa não perdoou jamais essa humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes sua própria independência, porém conservava ainda meio milhão de escravos trabalhando nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era senhor de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.


A bandeira dos livres se içou sobre as ruínas. A terra haitiana havia sido devastada pele monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França. Uma terça parte da população havia caído em combate. Então, começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.


O delito da dignidade


Nem mesmo Simão Bolívar, que soube ser tão valente, teve a coragem de assinar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar poderia ter reiniciado sua luta pela independência americana, quando já havia derrotado a Espanha, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano lhe havia entregado sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que ao Libertador não lhe passava pela cabeça. Bolívar cumpriu com esse compromisso, porém depois de sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvado. E quando convocou as nações americanas para a reunião do Panamá, não convidou o Haiti, mas sim a Inglaterra.


Os Estados Unidos reconheceram o Haiti depois de sessenta anos do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque possuem pouca distância entre o umbigo e o pênis. Naquele instante, o Haiti já estava nas mãos de carniceiras ditaduras militares, que destinavam os famélicos recursos do país para pagar a dívida com ex-metrópole: a Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à Francia una indenização gigantesca, como modo de ver-se perdoado por ter cometido o delito da dignidade.


A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias tem dimensões de tragédia, é também una história do racismo na civilização ocidental.


“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo