domingo, 17 de outubro de 2010

Análise política e compromisso societário


Tenho certeza que algumas coisas são necessárias para uma análise em relação a algumas pautas que vêm sendo colocadas, parte pela esquerda brasileira, parte pela sociedade cristã e conservadora e parte também por aqueles que se julgam diferentes dos atuais modelos e eco-socialistas.

Não podemos esquecer que para uma sociedade ecologicamente pautada nos princípios da sustentabilidade, o capitalismo certamente não é a melhor opção de modelo econômico, pois nada o atrai mais do que a seu papel principal (o lucro). A construção de uma sociedade na qual a harmonia entre homem e natureza não pode se dar apenas como bandeira de governo, mas numa nova hegemonia cultural que percebe a importância de onde chegamos enquanto espécie humana e para onde acreditamos ter capacidade e avançar pensando nos próximos anos e vivendo não ecologicamente, mas humanamente melhor. Daí não podemos pautar o meio ambiente sem esquecer da importância da educação, da cultura, da saúde, da assistência social e demais setores não apenas governamentais que propõe uma qualidade de vida humana e de igualdade e diferença a todos/as cidadãos e cidadãs.

A sociedade cristã e conservadora (pois os cristãos não conservadores poucos deles se organizam na teologia da libertação), deve-se lembrar que a intolerância religiosa e seu papel orientador político no mundo fomentou destruição dos desiguais, morte de índios, ciganos, árabes entre outros povos e culturas ao longo de uma história de cruzadas e de perseguições. Portanto o Brasil conquistou a todos os religiosos e não religiosos algo fundamental para a convivência coletiva, a idéia de um estado laico. Este estado que ainda não se concretiza totalmente por ter mais símbolos religiosos católicos e nada de algum artefato relacionado a Ubanda ou outra religião presente em prédios públicos. Porem a conquista do estado laico faz com que judeus e palestinos possam viver no mesmo bairro de forma harmoniosa.

E por fim, pensando enquanto esquerda brasileira e o desafio a ela coloca, podemos claramente dizer duas coisas fundamentais. A primeira que entre Serra e Dilma não se tem escolha, pois de um lado há um projeto que a menos de 50 anos estava no poder representando a ditadura e a falta de investimentos sociais e de outro um projeto que dialoga com a universidade, com o povo e por mais difícil que seja tenta construir um país de todos.

Agora enquanto esquerda revolucionária, devemos ter claramente a idéia de que não podemos cobrar do PT e de nenhum governo constituído que este faça a revolução como alguns partidos de esquerda querem. Não existe estado fazendo e revolução, o papel do estado não é esse. O papel de construir bases sólidas a revolução vem do povo, da organização dos movimentos sociais e seria injusto querer que pós 500 anos de um passado de governos nada populares apenas o governo Lula / Dilma tenha este papel.

Vamos votar Dilma, mas vamos também nos comprometer que para além das importantes conferências organizadas pelo governo, que tenhamos pautas de reivindicações coletivas, que possamos nas ruas com o povo (principalmente o mais pobre) construir uma idéia de que política não é apenas transferir poder através de um biênio eleitoral, mas a luta do dia a dia acreditando que um outro mundo além de ser possível e necessário pautado na igualdade social, na diferença humana e na possibilidade de sermos totalmente livres como Rosa Luxemburgo um dia deixou este sonho a todos/as nós.

domingo, 10 de outubro de 2010




"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente livres"
(Rosa Luxemburgo)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cotas também como políticas afirmativas no Brasil



Inicialmente, como Nilma Gomes, intelectual negra no Brasil gostaria de problematizar a necessidade de termos dentro do Serviço Social uma cadeira que discuta a desigualdade e a diferença. Necessidade que já nós esclarece que não temos um país de iguais e de respeito aos diferentes.

Ao longo dos 500 anos, tendo mais tempo ainda de escravidão do que de libertação dos negros brasileiros poderíamos assim como Nilma Lino Gomes argumentar a cerca do debate sobre as cotas étnico-raciais no Brasil tomam por parte da imprensa e das elites brasileiras. Uma polêmica que se afasta da construção histórica do nosso país, um debate calcado numa falsa democracia racial, no real medo dos brancos filhos de brancos tenham que competir por igual num mesmo espaço acadêmico e futuramente na mesma vaga de engenharia ou de medicina, cursos, empregos predominantemente brancos.

O tempo todo se escuta dos grandes meios de comunicação o mesmo argumento apresentado por Demétrio Magnoli quando explicita a relação de porque “quase brancos” estão ocupando vagas negras nas universidades que oferecem sistema de cotas, que os brancos saem no sistema de cotas em situação de desvantagem.
Argumento clássico para justificar a não existência de uma das políticas que englobam um sistema de políticas afirmativas no Brasil.
Vale lembrar que a idéia das políticas afirmativas consegue ir muito alem da concessão das cotas nas universidades, Nilma Gomes, a autora descreve algumas já medidas implantadas como:

A reivindicação por cotas étnicas não se limita ao acesso à universidade. Em alguns setores do poder público, elas já são uma realidade: o Ministério de Desenvolvimento Agrário, o Ministério do Trabalho e o Ministério da Justiça já implementaram cotas étnicas. (GOMES, 2003;03)

Poderia trazer a realidade da cidade de Belo Horizonte, na qual a discussão sobre o combate a desigualdade racial entra em cena pública em mil novecentos e noventa e quatro, quando a administração municipal passa a trazer um sistema de cotas na publicidade dos programas municipais e nas esferas de poder dos cargos públicos.

Além de Belo Horizonte, a cidade de Contagem, por volta de dois mil e cinco, implanta uma série de estratégias para que os negros tenham poder no âmbito da administração pública quanto políticas afirmativas como resgate cultural do Quilombo dos Arturos na região central da cidade.


O Professor Kabengele Munaga ressalta em seus argumentos que a defesa da cota é uma busca justa pela equidade já que os negros no Brasil não são tratados de forma igualitária como os brancos, tanto historicamente quanto na vivência cotidiana por mais que o preconceito seja velado. A busca pelas cotas tem como objetivo é provocar no nível acadêmico e na esfera do conhecimento cientifico maiores olhares e vivências sociais que antes eram feitas pelo mesmo público.

Trazer negros pobres para a universidade é fazer com que amanhã um negro possa ter mais sensibilidade e identidade com a Lei 10.639 que regulamenta o ensino da história da África nas escolas, algo que alguns professores brancos fazem questão de muitas das vezes esquecer-se de problematizar em sala de aula.

Porem não basta como Nilma Gomes pontua, apenas o acesso a universidade, mas toda construção de políticas afirmativas, que são imprescindíveis e para que deixem de ser políticas de governo e passem a ser política de Estado. Jamais pode-se pensar tais políticas sem o estatuto da igualdade racial (luta histórica conquistada), este que tem como primazia defender assim como Boaventura Souza Santos respeitar as diferenças dando a todos e todas condições iguais de existência.


“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo