sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Até quando viveremos assim?





Por Leonardo Koury Martins¹

Enfrentar a fome deve ser parte de uma agenda política governamental. Ao longo de séculos, o fim da escravidão ainda deixa rastros sociais e econômicos no Brasil, que foi configurado a partir da realidade de pobreza e fome vivenciada por milhões de pessoas. Não por acaso, o país que mais produz alimentos no mundo tem governos que não tratam a fome como agenda pública. Se comer é um direito, a fome por consequência é uma escolha política.

Enfrentar a fome deve ser parte de uma agenda política governamental. Ao longo de séculos, o fim da escravidão ainda deixa rastros sociais e econômicos no Brasil, que foi configurado a partir da realidade de pobreza e fome vivenciada por milhões de pessoas. Não por acaso, o país que mais produz alimentos no mundo tem governos que não tratam a fome como agenda pública. Se comer é um direito, a fome por consequência é uma escolha política.

Na semana da alimentação saudável – que a partir do dia mundial da alimentação (16 de outubro) integra diversas lutas em um amplo calendário político apresentado pelos movimentos populares – se busca a atenção sobre o direito humano à alimentação adequada. No Brasil, este direito está previsto no artigo 6º da Constituição e em diversos instrumentos jurídicos, como a Lei Federal 11.346/06 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, articulando um amplo cronograma de políticas estaduais e municipais.

Porém, na atual conjuntura, de um total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões convivem com algum grau de insegurança alimentar, de acordo com a pesquisa apresentada em 2021 pela Rede de Pesquisadores em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), cujo tema é insegurança alimentar em meio à pandemia de covid-19. A fome atravessa a vida da população que sofre com o desemprego, a ausência de políticas eficazes de acesso à renda e de fortalecimento do trabalho cooperativo.

Como resultado da ausência de políticas públicas no enfrentamento à pobreza e à fome, assistimos todos os dias a rotina de pessoas que fazem filas para a doação de ossos, famílias que complementam a sua alimentação com ração animal, ou mesmo o agrupamento ao redor de caminhões de lixo. Esse cenário coloca para a sociedade que não vivemos um problema individual, apenas dos que têm fome, como nos ensina Carolina Maria de Jesus.

Em todo o território brasileiro a produção de alimentos é possível. E também, em todo o país, há a necessidade de políticas públicas que atendam a demanda trazida no último período pelas lutas e pelos atos de rua: vacina no braço e comida no prato.

O projeto de ampliação do direito à alimentação e à nutrição, no primeiro quarto do século 21, apresentava por meio do governo Lula uma série de políticas articuladas entre o campo e a cidade. Desde programas de aquisição de alimentos, compra da alimentação escolar, fomento à agroecologia, mas também relacionada à política de assistência social e à transferência de renda como direito social.

Aliada ao fomento da geração de emprego e renda, e de uma ampla capacidade de seguranças garantidas pelo Estado, a economia nacional possibilitou a retirada de 40 milhões de pessoas da linha da pobreza extrema. Porém, é um trabalho que descontinuado traz à realidade as recorrentes cenas de desespero e de indignidade vividas por tantas famílias no país.

Não há dúvidas que a fome deve ser enfrentada e deve ser parte de uma agenda política governamental. As experiências que vivemos nos governos Lula e Dilma, interrompidas no golpe de 2016, nos dão fôlego para resistir e lutar. Romper com a escravidão da fome só será possível se neste momento conseguirmos dizer não ao genocídio que nos ceifa vidas todos os dias. Um projeto popular é necessário.


¹Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo