sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mulher e Futebol: mandar o machismo pra escanteio





Dizem por aí que o Brasil é o país do futebol e que aqui, todo cidadão tem um pouco de técnico e comentarista. O futebol ocupa capas de jornal, horários nobres nos noticiários televisivos e é o protagonista das conversas de mesas de bar. Os intelectuais afirmam que é um esporte muito democrático, artistas cantam as plásticas do futebol e homenageiam seus times. Todo menino já jogou bola: em casa, na escola, na praia, no campo, na quadra, ainda que nunca tivesse levado muito jeito para a bola nos pés. Tem os fanáticos, os que gostam, os que nunca foram ao estádio, mas todos tem um time.

Se você é homem e leu esse parágrafo inicial, provavelmente achou tudo natural. Se é mulher, provavelmente não se sentiu incluída sequer no português. Pois é.

Acontece que o o universo do futebol é caracterizado, desde sua origem, como um espaço majoritariamente masculino. Não só no futebol como esporte, mas também nas suas manifestações culturais. A pelada é um espaço masculino, o bar depois do jogo é um espaço masculino, as discussões sobre o impedimento do final de semana são masculinas e o respeito pelas opiniões futebolísticas, também.

Mesmo se tratando do esporte mais popular do Brasil, o futebol demorou a aceitar mulheres tanto como torcedoras (afinal, mulheres fora do próprio lar não eram muito bem vistas), tampouco como atletas, sendo inclusive proibidas de praticarem o esporte, que utilizava como justificativa a preservação da “capacidade procriativa” da mulher. O que pode parecer absurdo agora, era totalmente justificável num passado bem recente e mesmo que alguma coisa tenha mudado, fica a pergunta: o que realmente mudou na relação entre a mulher e o futebol? Atualmente, vê-se os mesmos preconceitos, a mesma falta de oportunidade no menor incentivo ao futebol feminino, desde a organização dos eventos até o financiamento dos times. Os mesmos estigmas que marcaram nossas avós no que diz respeito ao esporte e lazer nos assombra hoje, como forma de dizer: futebol não é coisa de mulher!

Que mulher que gosta de futebol nunca ouviu, mesmo que nas entrelinhas que futebol é coisa pra homem? Que teve sua opinião diminuída sobre aquela falta fora da área só por ser mulher, mesmo que depois o tira teima-teima provado que foi mesmo fora da área? Que se percebeu como a única em um grupo de dezenas de homens a caminho do estádio?

A presença da mulher no futebol ainda é muito caracterizada por três esteriótipos de mulher. A masculinizada e por isso, entende de futebol tanto quanto um homem. A musa, caracterizada também por não entender de futebol, mas por seus atributos físicos padronizados e por compor o tripé: cerveja, futebol e mulher, onde o que importa é sempre, a opinião e a diversão do homem. E por fim, a acompanhante, que está no espaço do futebol por acompanhar o homem, que é o verdadeiro interessado no assunto. Acontece que nós também somos mulheres, gostamos de futebol, mas não nos incorporamos em nenhuma das três características acima e queremos participar, assistir, torcer e jogar futebol sem sofrer com o machismo tão inerente em todas as coisas da sociedade, mas ainda mais exacerbado no futebol.

E se você achou que isso é coisa de militante-feminista-chata-radical, nós vamos ao exemplo prático, pra te provar o quanto o machismo e o preconceito continua a limitar e castrar até mesmo o divertimento em nossa sociedade. Porque se tudo fosse como ditam o status quo,  poderíamos concluir que o futebol é para homens, brancos, heterossexuais e de elite.  Afinal de contas, não são sempre as mães dos juízes, os negros (com tristes episódios de racismo, principalmente no futebol europeu) e os gays os maiores alvos dos xingamentos e piadinhas? E o que dizer dos contratos milionários de exibição na TV, que impõe os horários aos jogos? E o quanto se gasta para ir ao estádio atualmente, não seria para afastar a classe trabalhadora do futebol?

A verdade é que o futebol tem perdido sua característica popular. É por isso que nós, mulheres, reivindicamos o direito de gostar de futebol! E chamamos todos aqueles que também o adoram, a entrar em campo por um futebol sem machismo e sem qualquer forma de preconceito e opressão. Não podemos esperar que os cartolas apontem soluções para isso. Façamos nós, dos nossos estádios,  um lugar cheio de gente de todas as cores, bandeiras, homens, mulheres e paixão, como o futebol pede!


Autoria: Camila Moreno é vascaína doente. Luara Ramos é louca pelo Galo. Elas são socialistas, feministas, adoram uma conversa de boteco e sabem quando é impedimento sem precisar do replay.

Nenhum comentário:

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo