quarta-feira, 28 de junho de 2023

Ainda não é o justo para ele


Charge: Quino
Charge: Quino


O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) resolveu tirar a venda dos olhos com relação aos crimes do inominável. Como deputado, já falava barbaridades e utilizava de forma duvidosa os recursos do gabinete parlamentar. Os filhos dele copiaram o pai e a ciranda dos podres poderes criaram raízes e reforçaram a tristeza da nação. 

Na função política de maior prestígio, o pai ceifou a democracia com suas palavras infundadas, xingou ministros, fez motociata – campanha antecipada -, e sempre usou a estrutura pública para fazer campanha. Inventou, reinventou mentiras sobre as urnas eletrônicas e até fez reunião oficial com embaixadores com o intuito de mentir sobre o nosso sistema eleitoral, aliás, por meio do qual o próprio foi eleito e reeleito deputado várias vezes. 

Então, o Brasil foi “Da lama ao caos” e o TSE assistiu a tudo, sem considerar, de 2018 a 2022, que era com ele, mas era! Que joia, né? Todavia, o que o TSE está para fazer esta semana – tornar ilegível o inominável – é um atraso jurídico e político. Já em 2021, o parlamento deveria ter aberto um processo de impeachment. 

Covardes! 

Por omissão da extrema direita e pela parcimônia da esquerda. Além disso, crimes e mais crimes de responsabilidade acumulam-se sobre as costas do inominável: causou a pandemia ao negá-la, impediu e desmotivou as pessoas a se vacinarem e, pior ainda, inventou remédios falsos, crime de charlatanismo, prevaricação, desviou dinheiro e fez mau uso do dinheiro público, usou um suposto relatório do Tribunas de Contas da União, disseminando que a maior parte das mortes por Covid-19 derivaram de outras doenças, fato desmentido pelo próprio órgão. 

E depois? Somem-se os crimes contra os Direitos Humanos e, mais recentemente, a falsificação de sua carteirinha de vacinação. Não vamos encaixar aqui a incitação de crianças a pegarem em armas e nem o “pintou um clima”, quando o inominável relatou ao ver uma adolescente na frente da sua casa. “Ai!”, “Esse grito contido” pela justiça, agora faz “Aquarela”. 

Pelo infortúnio de não emplacar seu candidato à presidência, o PDT ao menos escolheu melhor as palavras e as articulações, solicitando ao TSE que declare inelegível o inominável e seu vice camuflado, pelo motivo corriqueiro do governo do ex-presidente da República - abuso de poder político. Claro, o uso impróprio de dinheiro público também consta na ação, conforme informação do site do TSE, ao reunir “embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada, em 18 de julho de 2022. O PDT informa que o encontro de Bolsonaro com os embaixadores foi transmitido, ao vivo, pela TV Brasil e pelas redes sociais YouTube, Instagram e Facebook, que mantiveram o conteúdo na internet para posterior visualização”. 

O poeta Caetano Veloso já tinha nos avisado: “Enquanto os homens exercem/Seus podres poderes/Motos e fuscas avançam/Os sinais vermelhos/E perdem os verdes/Somos uns boçais”. É verdade que o sinal verde já está aceso desde quando o inominável estava no poder, espalhando sua podridão pela boca que não cala. Cálice! Agora, o TSE faz meia justiça, mas não podemos esquecer dos outros crimes. Por uma punição exemplar a ele e a sua trupe pedante! 

Enfim, “Apesar de você/Amanhã há de ser/Outro dia/Eu pergunto a você/Onde vai se esconder ...”. 


Israel Aparecido Gonçalves é mestre em Ciência Política, doutorando em Sociologia Econômica pela UFSC. Autor de 12 livros. @prof.israelnapolitica

terça-feira, 27 de junho de 2023

O Neofascismo no Brasil: interrupção abrupta que a cada dia piora as nossas condições de vida


Charge: Topeira


Em 2023, após 10 anos de junho, muitos ensinamentos precisam estar em pauta para dialogar sobre a democracia no Brasil. A interrupção deste ciclo de desenvolvimento dos governos petistas ocorreu de forma abrupta com o golpe de 2016. Contrarreformas e mudanças estruturais ocorreram desde então no sentido contrário aos anseios da população.

Dentre elas, a aprovação da Emenda Constitucional 95 conhecida como EC do teto de investimentos sociais; os desmontes dos direitos conquistados como a Previdência e o trabalho; o esvaziamento e a extinção de Conselhos de participação pela MP-870, que extinguiu 17 Conselhos Federais como o caso do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, o maior conselho federal vinculado à Presidência da República.

O golpe contra a classe trabalhadora é o principal responsável pelo dia a dia difícil vivenciado hoje pela população brasileira mais pobre. A alta dos preços do gás e dos alimentos, o elevado custo de medicamentos, a piora na entrega de serviços, o aumento do preço das tarifas de água e energia elétrica e a ausência de investimentos no transporte público.

O não reajuste dos salários em relação ao custo de vida se soma a ausência de investimentos públicos e privados no país para agravar a crise social e econômica.

As agendas do governo neoliberal se somam ao conservadorismo e ampliam enormemente o cenário de violência contra mulheres, mortes à população LGBTQIA + e o cotidiano de guerra nas favelas. No Brasil rural o cotidiano apresenta a perseguição de lideranças camponesas, indígenas e quilombolas. Não há um dia que não se noticie uma violação dos direitos humanos no território brasileiro.

Tal cenário diminui a confiança no Estado e não seria diferente quando a democracia já frágil, se vê ainda mais limitada. Mas é necessário, em contraponto a essa dura realidade, a compreensão de que não é possível construir as políticas públicas de forma distante da defesa da democracia e da participação social. É inviável construir a política de Assistência Social sem refletir sobre o preço do gás de cozinha, por exemplo.

Assim, frente a toda putrefação humana que (sobre)vivemos, derrotar o projeto de Bolsonaro é um passo muito importante para fortalecer a agenda nacional pela cidadania.

 Nas últimas décadas as políticas sociais ampliaram as suas metodologias, marcos legais e perspectivas. Porém, para agora, nesta conjuntura, a visão intersetorial e participativa deve ser a principal centralidade do debate na gestão dos governos progressistas.

É preciso que quaisquer ações sejam construídas com unidade. Devemos visualizar as demandas da população a partir da sua integralidade. A pobreza é uma condição multidimensional, portanto a resposta do Estado deve ser a partir da compreensão de que o seu enfrentamento só se dará por uma série de ações governamentais integradas.

A participação política por sua vez só pode ser plena se for aliada ao entendimento da não fragmentação da população frente aos problemas sociais. É a participação que constitui o empoderamento coletivo. Só assim o povo se sentirá parte do Estado, quando voltar a visualizá-lo pela mais profunda expressão democrática de coletividade. A história do povo só pode ser construída com o próprio povo, pelo povo e com toda a sua diversidade.

Agora é 2023 e precisamos alterar essa correlação de forças que vai além dos governos, mas do cotidiano das lutas sociais e dos movimentos populares. É nossa tarefa histórica e necessária para novas gerações que virão.

Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

205 anos de Marx

Charge: Diego Nave


Hoje a classe trabalhadora comemora os 205 anos de Karl Marx! 

Após a leitura de seus conhecimentos científicos apresentados de forma generosa e sensível à realidade do povo. Especialmente a partir da capacidade crítica e das tensões entre capital e trabalho, o mundo nunca mais foi o mesmo. 

Para nós, Jornalistas Livres, sua trajetória ensina construir a partir da comunicação independente em defesa da Democracia e dos Direitos Humanos. 

Obrigado por tudo!

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Escravidão é política: o projeto econômico das elites precisa chegar ao fim


Charge: Ivan Cabral


O trabalho análogo à escravidão é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como um crime contra toda a humanidade. É prioritário o seu enfrentamento e de responsabilidade dos países signatários dessas organizações globais. Cabe aos países garantir que essa prática milenar não mais aconteça.

Porém, faz-se necessário apresentar que a escravidão é uma prática política, como descreve a autora Lélia Gonzalez. O modelo de escravismo sobrevive na ordem do sistema capitalista, que visa expropriar a natureza na busca de matéria prima e explorar ao máximo toda capacidade produtiva de trabalhadoras e trabalhadores para diminuir os custos de produção referentes à força de trabalho.

A partir do levantamento de dados nacionais, a OIT estima que 50 milhões de pessoas estejam submetidas ao trabalho análogo à escravidão. O modelo do escravismo não se limita aos países africanos e asiáticos, sendo todos os anos apresentado situações em espaços industriais, na agricultura e no comércio também em países europeus e nos Estados Unidos.

No Brasil, em 2021, dados do então Ministério do Trabalho e Previdência indicam que foram libertadas 1.937 pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão.

Não por acaso, diversas reportagens no país apresentam que diversos setores econômicos apostam ainda na escravidão como mão de obra para o trabalho. Seja nos galpões das grandes cidades, seja no campo. Ou mesmo nas residências da classe média, como o caso da mulher de 84 anos resgatada, em 2022, em condições análogas às de escrava, após 72 anos trabalhando como empregada doméstica para três gerações de uma mesma família no Rio de Janeiro.

Neste ano, na região de vinícolas de Bento Gonçalves ocorreu o maior resgate de trabalhadores violentados por essa prática, sendo mais de 180 homens em condições precárias de alojamento, sem acesso aos familiares, à higiene e à alimentação básica. No contrassenso, eram escravizados na produção agroalimentar na região da Serra Gaúcha, uma das mais importantes produtoras de vinhos e espumantes do país.

Em nota de posicionamento, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves apresenta que a decisão das empresas ao apostar no trabalho escravo como integrante da produção é devido ao reflexo assistencialista das políticas sociais estatais, o que levaria aos brasileiros a não procurar se qualificar enquanto trabalhadores. Também argumenta a nota, é a partir de um projeto de direitos sociais instituídos e da ausência de modelos de mão de obra que o país não consegue desenvolver outras possibilidades de trabalho.

A nota de posicionamento serve como reflexo deste projeto político que apresenta o modelo de escravismo como condição de lucro e apropriação máxima do capital sobre o trabalho.

O Brasil, desde a invasão portuguesa a partir do século 16 teve como formação da mão de obra o trabalho escravo de povos indígenas e de negras e negros sequestrados de diversos países africanos. Somos o último país das Américas a abolir da nossa legislação o direito a escravização de pessoas. Mas a escravidão, além de prática constante, ainda permeia o imaginário da elite nacional.

O século 20 foi marcado pela luta dos trabalhadores por direitos trabalhistas, em embate com setores empresariais que criticavam a criação do salário mínimo e buscavam deslegitimar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Já no século 21, mais especificamente na última década, a classificação do trabalho doméstico como um trabalho assalariado com direitos, fez com que a burguesia brasileira utilizasse da sua mídia, a mídia empresarial, para propor uma forte oposição frente ao direito de milhares de mulheres negras e pobres que se encontram ainda sob essa ocupação profissional.

O projeto de desmonte do governo Bolsonaro, como reflexo ao apoio das elites nacionais, desmantelou a fiscalização e extinguiu no seu primeiro ano de governo o Ministério do Trabalho. Em concomitância, os setores empresariais se beneficiaram das queimadas, da extração ilegal de madeira e minerais. Neste cenário também ocorreram perseguição às organizações defensoras do meio ambiente e de direitos humanos, que arduamente denunciaram tais medidas.

É necessário ampliar os concursos públicos para que o Estado tenha a capacidade política de se organizar e diminuir a influência dos interesses privados que tanto diminuem o seu poder fiscalizatório. Não haverá combate à escravidão sem a efetivação de políticas sociais. Estas só são possíveis a partir de um poder público comprometido com o seu papel de proteção social.

O tempo do desmantelamento precisa chegar ao fim. Caberá por agora, um projeto popular de Brasil, que reconheça a partir da sua formação social o reconhecimento das demandas e necessidades de sua população O Brasil precisa compreender que a ordem econômica deve estar umbilicalmente ligada a um novo projeto de sociedade.


Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

VENCEMOS, POIS SOMOS A GERAÇÃO QUE IRÁ DERROTAR MAIS UMA VEZ O ÓDIO E A INTOLERÂNCIA

 



Vencer não é a única análise. Longe de qualquer susto e do desalento das nossas expectativas, do amedrontamento coletivo de que mais uma vez veremos um pesadelo se materializando em um projeto de ódio e intolerância, é hora de recompor as nossas mentes e corações para continuar uma luta que não se inicia no nosso tempo.

Seremos a geração que irá derrotar mais uma vez o ódio e a intolerância, marcas do fascismo, presentes no processo de violências e opressões que se constitui na formação sócio histórica do país e que configura as relações de poder que precisam definitivamente serem enfrentadas.

O patriarcado, o racismo, a lgbtfobia se correlacionam ao ódio aos pobres, aos povos e comunidades tradicionais, a população nordestina, a diversidade religiosa e passeiam no imaginário e na prática social que nos configura enquanto nação. Mas sejamos flores, mais uma vez na chegada da primavera.

Nossa luta é feita por antepassados e descendentes daquelas e daqueles que constituíram quilombos, criaram resistência, deram parte de suas vidas na luta por pão, terra e trabalho. Pelas gerações que saíram às ruas, mesmo com todas as restrições para dizer não às ditaduras impostas em nosso país. De mulheres, negras e negros, de professoras e pedreiros que construíram as riquezas e morreram sem delas aproveitar.

Mas deixaram para essa geração a responsabilidade que dia a dia vem se construindo na continuidade da luta pela reforma agrária, moradia, agroecologia, feminismo, pelo direito de viver. Essa nossa geração tem conseguido um congresso mais feminimo e feminista, de mulheres negras e indigenas. Mas tem conseguido continuar construindo os movimentos sindicais, mesmo após a reforma trabalhista e previdenciária. Essa geração, a qual fazemos parte, resiste mesmo com tantas barragens em risco, para dizer não ao modelo de nação que não cabe aos pobres.

É hora de esperançar, como ensina Paulo Frente, de lutar por noites vivas como ensina Lélia Gonzalez, de acreditar que a nossa luta coletiva nos trará um amanhã de liberdade parafraseando Rosa Luxemburgo. Precisamos de todas, todes e todos para que o Lula ganhe o segundo turno das eleições e consiga base social para governar. Precisamos acreditar em nós, na beleza que temos, por sermos uma classe trabalhadora que resiste aos tempos, mantém a nossa diversidade e caminha pela alvorada para que a tristeza do hoje seja substituída para um dia que venha nascer feliz.


Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular. 


quinta-feira, 3 de março de 2022

Os comitês populares e a importância do trabalho de base

Charge: Henfil


Passados quase dois anos do início da pandemia, e nesta conta se acrescenta pouco mais de meia década do Golpe de Estado que colocou o país nos mais profundos labirintos do neoliberalismo, toda a conjuntura nos exige a reflexão sobre qual projeto precisa ser construído coletivamente para servir aos interesses da população brasileira.

Para este texto, não é necessário um longo aprofundamento histórico referente aos entraves do capital frente ao trabalho ou mesmo da desafiadora relação entre o povo e as lutas do cotidiano. Porém, é necessário destacar que só o povo organizado pode contrapor os interesses dos poderosos frente ao direito de viver.

As lutas nas redes e nas ruas nos últimos anos só foram possíveis por conta da nossa construção coletiva, mas é preciso ir além.

Em 2021, os diversos atos nacionais, paralisações e greves foram o farol de que nossas pautas têm legitimidade social. As entidades e as frentes de luta apresentaram, a partir da unidade no último ano, as pautas sindicais, partidárias da esquerda e populares. Essa imensa plataforma para 2022 continua no objetivo de derrotar o genocídio vivenciado todos os dias.

O momento exige diálogo e a contínua organização de base, que se faz através da organização nos bairros, nas igrejas, nas universidades e nos diferentes territórios. Para derrotar Bolsonaro, é fundamental garantir que estes comitês carreguem as bandeiras de luta construídas na unidade das diversas organizações.

Mas estejamos à frente do que a conjuntura apresenta como o necessário. São nesses espaços coletivos que teremos a possibilidade de avançar no reconhecimento de identidade, na comunicação e na formação coletiva, a partir dos princípios da Educação Libertadora. É neste momento que a leitura dos textos clássicos e das notícias dos jornais se encontram com o cotidiano.

Sejamos ousadas e ousados, para que estes espaços se construam pela interseccionalidade entre as questões de gênero, os debates étnico raciais e a relação classista que nos faz ser trabalhadoras e trabalhadores com a pluralidade que somos. Mas não podemos nos esquecer que toda esta configuração tem desafios para superar, como os crimes cometidos contra a população LGBTQIA+ ou mesmo o genocídio de jovens negros pobres. Estes espaços coletivos não podem esquecer do que é vivenciado dia a dia. Só a capacidade de compreender a realidade pode superar a própria realidade posta.

Que os nossos espaços coletivos, a partir do trabalho nos territórios, sejam construtores do tecido social necessário para avançarmos nas demandas cotidianas daquela mulher do bairro que pela ausência do Estado, não tem com quem deixar seus filhos após o período escolar.

Que dialogue a partir da vida das milhares de famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional, que trazem como tema o não silêncio das violências vivenciadas no campo e na cidade. Espaços populares, comitês de lutas, núcleos e comunidades de base são o espelho da nossa coragem e do direito de viver.

Que estes espaços sejam como Rosa Luxemburgo dentro de nós, florescendo nos corações mais avermelhados e coloridos, a construção de uma sociedade que se faça de uma economia igualitária, humanamente diversa e totalmente livre. Nossas utopias inspiram e caminham ao passo da nossa vontade de superar a violência e descaso vivido para construir uma nova ordem conjunto à alvorada que virá amanhã.

Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular. Texto publicado no Brasil de Fato.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

CURSO História e Política: formação de lideranças de esquerda

 


Fundação Perseu Abramo lança novo curso "História e Política: formação de lideranças de esquerda". O curso gratuito terá início no dia 23 de fevereiro e contará com 14 módulos contendo 50 aulas, com média de duração de 25 minutos, entre gravadas e ao vivo, que serão disponibilizadas semanalmente na plataforma EaD. 

Será apresentado um apanhado sobre lutas de resistência ao longo da história até a atualidade, oferecendo pistas e caminhos metodológicos para que cada um possa interpretar a realidade da luta popular e desvendar os mecanismos de hegemonia da classe dominante.

O link para inscrição e programa completo do curso é: https://bit.ly/fpa_curso_historia_politica


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os perigos do relativismo e do negacionismo rondam a vida social


Charge: Zé Dassilva


A construção da vida social não é linear e nem mesmo presa na lateralidade das condições ideais. A sociedade vivencia a partir da amplitude das oportunidades e dos direitos constituídos como irá caminhar dia após dia. Na vida social, não existe apenas o mundo do trabalho ou da família, mas as instituições religiosas, esportivas, o papel do lazer e da cultura propiciam avanços, mas também, por vezes, regressos coletivos inimagináveis.

É nesse processo que o relativismo e o negacionismo podem se tornar grandes vilões dos direitos conquistados pela classe trabalhadora. Esses vilões no Brasil apregoam nos últimos anos proporções nunca antes sentidas por nossa geração. A presença de governos que ignoram o saber científico e relativizam a realidade social e econômica da população em geral, amplia as vozes intolerantes que acreditam que os termos vida e morte são uma questão de opinião.

Para contribuir com as reflexões sobre estes fenômenos, o relativismo é do ponto de vista epistemológico a afirmação da relatividade do conhecimento humano e a inconscibilidade do absoluto e da verdade. É neste processo que à razão de fatores aleatórios e/ou subjetivos se tornam inerentes ao processo cognitivo.

Quanto ao negacionismo é a escolha de desacreditar na realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Quando tratamos do conhecimento baseado na ciência, o negacionismo deve ser definido como a rejeição dos conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico a favor de ideias que ao mesmo tempo são radicais e também controversas.

Se explicam esses fenômenos aliados à pandemia quando os governos em geral ignoram desde o papel da ciência (como no caso da celeridade na vacinação), quanto a não tomada de medidas sanitárias (ausência do papel do Estado por normatizar as restrições e o distanciamento); que possam diminuir os casos de contaminação. Nos equilibramos nos últimos anos entre ignorar a realidade pandêmica, quanto relativizar os limites e os desafios para a saúde coletiva e para o direito à vida, esses tão necessários.

Porém os desafios vão além da Pandemia, que neste estágio entre sintomas gripais diversos afetam milhões de pessoas por dia em todo o mundo a partir da infecção e óbito de crianças, idosos e pessoas com baixa capacidade imunológica. A irresponsabilidade quanto ao aumento dos casos de Covid19 e o H3N2 são pontas de um iceberg que se encontram em nossos mares.

É a partir do negacionismo e do relativismo os casos de feminicídio, de lgbtfobia, de desmatamento nas florestas, dos ataques às populações das favelas e do campo se ampliam e normalizam no imaginário social. O respeito a vivência e a cultura dos povos e comunidades tradicionais, assim como o ataque aos direitos públicos estão interligados hora porque não se acredita na importância da história e hora na imobilidade de reação futura, por acreditar que não existe nada mais a se fazer.

Mas, existe entre esses vilões dos direitos conquistados a capacidade de esperançar. O verbo pronunciado pelo educador Paulo Freire, a partir da palavra esperança. A racionalidade dominante, como descreveu Milton Santos, é incapaz de nos convencer que as “coisas” sempre foram e sempre serão assim. Nas marés mais cheias, também existem os ventos que sopram a favor das pessoas que negavam, são os ventos da esperança.

É na esperança que possamos visualizar a tarefa de que todas as vezes que dizemos não às práticas do relativismo e do negacionismo, nós nos (re) posicionamos. E quando fazemos isso, várias vezes ao longo do dia; e no dia a dia de todos os dias; temos uma esperança maior do que a nossa própria existência.

Essa esperança e este esperançar é parte do projeto popular que não apenas nos inspira no Brasil, mas em toda a América Latina e no mundo. Um outro mundo é possível, e necessário.


Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular. 

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Até quando viveremos assim?





Por Leonardo Koury Martins¹

Enfrentar a fome deve ser parte de uma agenda política governamental. Ao longo de séculos, o fim da escravidão ainda deixa rastros sociais e econômicos no Brasil, que foi configurado a partir da realidade de pobreza e fome vivenciada por milhões de pessoas. Não por acaso, o país que mais produz alimentos no mundo tem governos que não tratam a fome como agenda pública. Se comer é um direito, a fome por consequência é uma escolha política.

Enfrentar a fome deve ser parte de uma agenda política governamental. Ao longo de séculos, o fim da escravidão ainda deixa rastros sociais e econômicos no Brasil, que foi configurado a partir da realidade de pobreza e fome vivenciada por milhões de pessoas. Não por acaso, o país que mais produz alimentos no mundo tem governos que não tratam a fome como agenda pública. Se comer é um direito, a fome por consequência é uma escolha política.

Na semana da alimentação saudável – que a partir do dia mundial da alimentação (16 de outubro) integra diversas lutas em um amplo calendário político apresentado pelos movimentos populares – se busca a atenção sobre o direito humano à alimentação adequada. No Brasil, este direito está previsto no artigo 6º da Constituição e em diversos instrumentos jurídicos, como a Lei Federal 11.346/06 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, articulando um amplo cronograma de políticas estaduais e municipais.

Porém, na atual conjuntura, de um total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões convivem com algum grau de insegurança alimentar, de acordo com a pesquisa apresentada em 2021 pela Rede de Pesquisadores em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), cujo tema é insegurança alimentar em meio à pandemia de covid-19. A fome atravessa a vida da população que sofre com o desemprego, a ausência de políticas eficazes de acesso à renda e de fortalecimento do trabalho cooperativo.

Como resultado da ausência de políticas públicas no enfrentamento à pobreza e à fome, assistimos todos os dias a rotina de pessoas que fazem filas para a doação de ossos, famílias que complementam a sua alimentação com ração animal, ou mesmo o agrupamento ao redor de caminhões de lixo. Esse cenário coloca para a sociedade que não vivemos um problema individual, apenas dos que têm fome, como nos ensina Carolina Maria de Jesus.

Em todo o território brasileiro a produção de alimentos é possível. E também, em todo o país, há a necessidade de políticas públicas que atendam a demanda trazida no último período pelas lutas e pelos atos de rua: vacina no braço e comida no prato.

O projeto de ampliação do direito à alimentação e à nutrição, no primeiro quarto do século 21, apresentava por meio do governo Lula uma série de políticas articuladas entre o campo e a cidade. Desde programas de aquisição de alimentos, compra da alimentação escolar, fomento à agroecologia, mas também relacionada à política de assistência social e à transferência de renda como direito social.

Aliada ao fomento da geração de emprego e renda, e de uma ampla capacidade de seguranças garantidas pelo Estado, a economia nacional possibilitou a retirada de 40 milhões de pessoas da linha da pobreza extrema. Porém, é um trabalho que descontinuado traz à realidade as recorrentes cenas de desespero e de indignidade vividas por tantas famílias no país.

Não há dúvidas que a fome deve ser enfrentada e deve ser parte de uma agenda política governamental. As experiências que vivemos nos governos Lula e Dilma, interrompidas no golpe de 2016, nos dão fôlego para resistir e lutar. Romper com a escravidão da fome só será possível se neste momento conseguirmos dizer não ao genocídio que nos ceifa vidas todos os dias. Um projeto popular é necessário.


¹Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular

domingo, 24 de outubro de 2021

COMER É UM DIREITO E A FOME É UMA ESCOLHA POLÍTICA





por: Benett

A luta pela alimentação deve ser uma bandeira global. Comer é um ato político. Sendo assim, a fome é uma decisão política, às vezes como forma de protesto, como ocorre nas greves de fome. Mas governos de vários países transformam a fome em prática genocida.

Nós, Jornalistas Livres, passamos para lembrar que não é só neste 16 de Outubro, Dia Mundial da Alimentação, que devemos lutar pelo direito de todos por um prato de comida. Essa é uma luta de todos os dias do ano.

Vivemos em um país que é o maior produtor de alimentos do mundo, mas 19 milhões vivem o cotidiano da fome.

Os Jornalistas Livres são a favor da Agroecologia e da Luta pela Terra, para que todas, todos e todes possam viver livres da especulação das commodities ou pelo modelo de comida/mercado.

Viva a luta dos movimentos sociais do campo, das águas, das florestas e da cidade que dizem COMER É UM DIREITO!

Leonardo Koury Martins é assistente social, professor e escritor.

domingo, 26 de setembro de 2021

Território e Ciência é tema de entrevista no Podcast da UFOP




O Território Descenso finalmente está no ar!!! Nessa produção sonora, trazemos um podcast de quatro episódios, no qual através de entrevistas com nomes marcantes da luta social pelos direitos à moradia e trabalho, passamos a entender mais sobre nossa história e como a falta do Censo nos afeta. 

Entrevista especial com Leonardo Koury

No último episódio da série “Território Descenso", o assistente social Leonardo Koury, reflete sobre a luta por moradia e a discussão sobre os espaços urbanos e rurais do Brasil. Leonardo ainda aborda a importância do Censo e os seus principais impactos dentro do contexto de moradia no Brasil.

Venha conferir esta produção da Curinga Dossiê, que está disponível no Spotify e em nosso site!

🔗 Link do site:

https://revistacuringa.wixsite.com/edicao30/podcast

🎧 Spotify:

https://open.spotify.com/show/0J7ajgFXQ5vRAQnGsA7xTw?si=SoFH4wYMSj2HrWiTZne53w&utm_source=copy-link&dl_branch=1


“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo