sábado, 18 de março de 2017

É muito além de carne estragada

foto: FernandoFrazão - Campanha contra agrotóxicos



A Polícia Federal PF e a operação Carne Fraca (não sei de onde veio este nome) declarou à imprensa que as maiores empresas de pecuária e corte e seus frigoríficos fraudavam o processo de produção de carne no país. Boa parte para a alimentação escolar, porem a fraude também era exercida para o mercado privado. Segundo a PF, o Ministério da Agricultura era o grande articulador e interlocutor da adulteração dos alimentos.

Porem existe algo que devemos dialogar que não se refere apenas a operação da PF que na linguagem popular deveria chamar: Carne Podre. Alguns questionamentos e reflexões são fundamentais para a garantia dos direitos humanos, em especial o direito humano a alimentação adequada.

A que custo vale a vida? Alimentos sólidos ou líquidos são a base fundante para que nosso corpo resista ao cotidiano de atividades físicas e laborais. Nossa vida não pode valer a ganância e o lucro de ruralistas que trazem o modelo do agronegócio, baseado na revolução verde dos anos 80, como uma forma única de abastecimento alimentar do país.

Comer é um ato político e segundo o organizador do SlowFood, Carlo Petrini, o poder de articulação entre os campesinos e a população é uma estratégia objetiva para romper com a quase nenhuma soberania alimentar que vivenciamos nos tempos atuais.

E se é política a escolha do alimento, mais do que nunca é hora de fortalecer a agricultura familiar agroecológica, garantir a Segurança Alimentar e Nutricional como um direito inalienável, superar a ideia de que alimento é mercadoria. É também importante garantir a produção nas grandes cidades através da agricultura urbana, pensando as praças, parques e lotes vagos que hoje estão dispostos a especulação imobiliária como espaços de produção.

Lutar é preciso. O agronegócio é o PIB de um país que lucra com a morte de milhares de pessoas por doenças como câncer, diabetes e dentre outras provocadas pela transgenia dos alimentos, veneno na produção agrícola. Quem perde com isso é o povo brasileiro, a fauna e flora. Não haverá biodiversidade enquanto o lucro for mais importante do que a Terra.

Lutar é necessário. Garantir aos agricultores e agricultoras familiares a condição real de assistência técnica e fomento para a produção de alimentos saudáveis, superar o estigma de que comer caro. Só quando os governos estiverem articulados aos movimentos sociais haverá circuitos curtos de comercialização e uma nova legislação sanitária que coloque fora de nossas casas as carnes pobres e nos garanta os produtos beneficiados pelo campesinato.

Comida de verdade no campo e na cidade só é possível se existir uma nova forma de lidar com o campo, pensando a ruralidade, as tradições e o conhecimento popular. Só será possível quando estivermos dispostos a construir uma nova ordem societária longe da opressão e da desigualdade, em que a relação ecológica não seja um marketing empresarial, mas sim um norteador para o equilíbrio do planeta.

Leonardo Koury – Professor, assistente social e militante dos movimentos sociais

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