foto: FernandoFrazão - Campanha contra agrotóxicos |
A Polícia Federal PF e a operação Carne Fraca (não sei de
onde veio este nome) declarou à imprensa que as maiores empresas de pecuária e
corte e seus frigoríficos fraudavam o processo de produção de carne no país.
Boa parte para a alimentação escolar, porem a fraude também era exercida para o
mercado privado. Segundo a PF, o Ministério da Agricultura era o grande
articulador e interlocutor da adulteração dos alimentos.
Porem existe algo que devemos dialogar que não se refere
apenas a operação da PF que na linguagem popular deveria chamar: Carne Podre. Alguns
questionamentos e reflexões são fundamentais para a garantia dos direitos
humanos, em especial o direito humano a alimentação adequada.
A que custo vale a vida? Alimentos sólidos ou líquidos são a
base fundante para que nosso corpo resista ao cotidiano de atividades físicas e
laborais. Nossa vida não pode valer a ganância e o lucro de ruralistas que
trazem o modelo do agronegócio, baseado na revolução verde dos anos 80, como
uma forma única de abastecimento alimentar do país.
Comer é um ato político e segundo o organizador do SlowFood,
Carlo Petrini, o poder de articulação entre os campesinos e a população é uma
estratégia objetiva para romper com a quase nenhuma soberania alimentar que
vivenciamos nos tempos atuais.
E se é política a escolha do alimento, mais do que nunca é
hora de fortalecer a agricultura familiar agroecológica, garantir a Segurança
Alimentar e Nutricional como um direito inalienável, superar a ideia de que
alimento é mercadoria. É também importante garantir a produção nas grandes cidades
através da agricultura urbana, pensando as praças, parques e lotes vagos que
hoje estão dispostos a especulação imobiliária como espaços de produção.
Lutar é preciso. O agronegócio é o PIB de um país que lucra
com a morte de milhares de pessoas por doenças como câncer, diabetes e dentre
outras provocadas pela transgenia dos alimentos, veneno na produção agrícola.
Quem perde com isso é o povo brasileiro, a fauna e flora. Não haverá biodiversidade
enquanto o lucro for mais importante do que a Terra.
Lutar é necessário. Garantir aos agricultores e agricultoras
familiares a condição real de assistência técnica e fomento para a produção de
alimentos saudáveis, superar o estigma de que comer caro. Só quando os governos
estiverem articulados aos movimentos sociais haverá circuitos curtos de
comercialização e uma nova legislação sanitária que coloque fora de nossas casas
as carnes pobres e nos garanta os produtos beneficiados pelo campesinato.
Comida de verdade no campo e na cidade só é possível se
existir uma nova forma de lidar com o campo, pensando a ruralidade, as tradições
e o conhecimento popular. Só será possível quando estivermos dispostos a
construir uma nova ordem societária longe da opressão e da desigualdade, em que
a relação ecológica não seja um marketing empresarial, mas sim um norteador
para o equilíbrio do planeta.
Leonardo Koury – Professor, assistente social e militante
dos movimentos sociais
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