A alguns anos, venho escrevendo e me dedicando propriamente em dialogar sobre as relações sociais e o poder. Debate que infere a construção de pensamentos e reflexões sobre a teoria e a prática numa sociedade de classe.
Estes últimos dias, um debate antigo e de características masculinizadas, moralista e conservadora traz a cena pública a seguinte questão. Se mulheres e seu comportamento formam a oportunidade e justifica um ato de violência masculina. Portanto as condições de diálogo sobre os 65% dos entrevistados e entrevistadas que respondiam que justificava o estupro vão mais do que só uma justificativa.
Numa sociedade em que seu sistema de produção econômico, por si, promove a desigualdade como fonte de sua manutenção, necessita de engendrar de forma cultural e em sua organização social conceitos muito além de senso comum.
Para manter a desigualdade entre gênero e sexualidade, promove não apenas singelas denominações heteronormativas, mas produzem cotidianamente a afirmação da necessidade de opressão para o alinhamento societário. O uso da força deve ser justificado quando o mais fraco ressalta suas características individuais. Afinal, para a opressão sexista, mulheres e homens de respeito deveriam usar roupas adequadas no local de trabalho, no local de lazer, no local e local..
A grande questão também permeia o racismo quando negras e negros não estão devidamente vestidos, pois uma bata africana não é uma roupa adequada para se trabalhar em um banco ou em uma grande empresa.
A descaracterização das diferenças, reafirma a uniformização do padrão social que traz aos negros e negras, as mulheres a inferioridade e subalternidade. Também afirma a necessidade de criminalização a livre orientação sexual, a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.
Não é apenas um discurso da moral e das normas sociais que estão em jogo, mas a construção de um padrão, de uma centralidade cultural que por trás reafirma a necessidade de que o modelo de produção capitalista não seja questionado.
Oprimir não é um ato de defesa de costumes, mas de ataque a toda forma de levante da opressão. A liberdade ameaça não apenas a hegemonia cultural, mas ameaça aqueles que fazem da individualidade, da disputa e da descaracterização das diferenças o motor para não se aprofundar na mais-valia e nas reais condições de poder atualmente estabelecidas.
Portanto, nestes discursos de defesa da família é perceptível a fragilidade de sua construção humanista, pois os mesmos que defendem a vida e negam o direito ao aborto, defendem e justificam que mulheres por suas atitudes sejam estupradas, como também defendem a juventude e aos pobres que não tem acessos reais a justiça a pena de morte.
Defendem a vida e se preciso a morte para todo ou qualquer discurso que desfaça o padrão de sociedade que acreditam. Defendem as possibilidades de consumo e seu padrão burguês de vida, mas marginaliza as lutas sociais e reafirmam o marginal padrão que norteia a desigualdade e as relações econômicas.
Termino parafraseando e construindo uma relação em complementar Malcolm X, quando ele diz que não devemos confundir a violência do opressor com a reação e a resistência do oprimido; e que façamos da opressão nossa bandeira e conquista não apenas por novos direitos, mas que não limitemos em legalidades, mas sim de mudar o mundo, pois apenas uma nova ordem pode construir uma nova sociedade.
Leonardo Koury Martins - Escritor, Assistente Social e Militante dos Movimentos Sociais
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