Vivemos uma profunda crise socioambiental sem precedentes na história do homem neste humilde planeta azul, a qual ameaça a perpetuidade das mais diversas formas de vida. É uma crise que se manifesta a partir de uma mesma força estrutural – a expansão do sistema capitalista global.
Neste sistema, profundamente injusto, permite-se a apropriação privada do homem e da natureza e sua exploração, gerando lucros (e quanto mais, melhor!) para seus “donos”, enquanto o restante da sociedade e dos demais seres ficam com o ônus. O capitalismo já se perpetua por duzentos anos, e ao meu ver (e tantos outros também) ainda é principal empecilho ao pleno desenvolvimento do indivíduo e da sociedade humana.
No entanto, questioná-lo ainda é considerado um ato de idealistas e revolucionários. E acho que é mesmo, pois só mesmo com um ideal revolucionário para romper com o capital e seus artifícios de perpetuação. O pior deles, acredito ser a nova moda do capitalismo disfarçado de dócil ovelha, que se propaga aos quatro ventos, armadilha que dever ser evitada sobremaneira.
Ouvimos dos meios acadêmicos e dos próprios movimentos sociais e ambientalistas, reverberado pela grande mídia, a idéia da responsabilidade individual pela preservação e contra a degradação ambiental, numa tentativa de esconder seu conteúdo de classe. Essa concepção, própria do ecocapitalismo, parte da lógica que a solução dos problemas socioambientais somente seria possível através do avanço tecnológico e do controle do comportamento individual ecologicamente correto, de forma a nos iludir, fazendo-nos acreditar que vivemos no melhor dos mundos, pois agora o capital despertou para estas questões.
No entanto, enquanto perdurar a apropriação privada do trabalho e da natureza, enquanto as decisões relativas a produção forem tomadas visando o lucro privado e não pelas necessidades coletivas, enfim, enquanto o capitalismo dominar o planeta, este continuará em risco. O sistema capitalista não pode regular, muito menos superar, essa crise que deflagrou, pois fazê-lo implica em colocar limites ao processo de acumulação, no caso, uma opção inaceitável.
Mas, se o capital deve ser superado, e a solução não está contida dentro do próprio sistema, qual seria a solução? Acredito firmemente ques esta perpassa necessariamente pela corrente socialista, uma vez que se empregue o termo como a passagem a uma sociedade pós-capitalista. Mas não basta aquele socialismo de primeira época. Faz-se necessário um ecossocialismo, que redefina a trajetória e o objetivo da produção socialista em um contexto ecológico. De forma mais específica, uma produção socialista que relacione e respeite intimamente os limites ao crescimento, essencial para a sustentabilidade da sociedade, nos moldes da economia ecológica. E além disso, sem impor escassez, sofrimento ou repressão à sociedade. O objetivo é a transformação das necessidades, uma profunda mudança de dimensão qualitativa, substituindo os atuais valores dominantes (crescimento econômico linear, egoísmo, competitividade, consumismo) por valores orientados para a harmonia social e para a solidariedade, no respeito pela natureza e seu caráter cíclico, tão intrínseco a vida.
O ecossocialismo entende que uma sociedade formada por produtores livremente associados não finda o processo de democratização. Deve-se buscar a liberdade de todos os seres humanos de forma harmoniosa com a natureza, como objetivo e fundamento.
No próprio manifesto desse movimento, que serviu em grande parte para a elaboração deste texto, é expressa a consciência do quão remoto são estes objetivos em relação à atual configuração do mundo, tanto no que se refere ao que está baseado nas instituições quanto no que está registrado nas consciências. E por mais utópico que possa ser o ecossocialismo, não quer dizer que não se deve empreender a luta por reformas imediatas, concretas e viáveis na nossa sociedade. Reformas que além de resultados imediatos, sejam passos na direção certa, de outra sociedade, possível e realmente sustentável. Parafraseando Tim Jackson: os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos… tem que chegar ao fim (esse final é meu).
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