Hoje parei para ler o que Trotsky falava sobre Stalin e vice versa, nessa de ler e reler tais opiniões que às vezes nem tão sinceras percebi que no meu passado de militante do Movimento Estudantil reproduzia certas segregações sobre ideologias (muitas das vezes apenas reproduzidas) e não chegávamos a lugar algum.
Nos últimos dias, no credenciamento do CONEB da UNE reencontrei os mesmos companheiros de sempre, os mesmos que antes quando eu era militante assíduo do ME encontrava entre as universidades e congressos e como hoje estive na mesma nostalgia.
Nessa de lembranças resolvi reler um trecho do Manifesto Comunista no qual Marx e Engels escrevem algo muito interessante que tenta mostrar a toda esquerda a necessidade da união para conseguir de forma totalista (e não totalitária) chegar ao Socialismo ou a uma sociedade diferente da ordem imposta nos nossos dias.
Digo uma ordem diferente porque os dois autores entre outros nos ensinaram sobre a dialética, que o não e o sim poderia dar o talvez ou a ordem versus a desordem fossem gerar um ordenado diferente. Mas para isso inicialmente deveríamos entender que os proletários de todos os países deveriam se unir. O ME nesta situação não poderia ficar de fora “né"?
Mas sobre este, estar fora ou lutar conjunto, repensei, seria possível mais um CONEB ao qual falaríamos que somos de esquerda, mas nos separamos apenas porque reproduzimos ideologias que muitas das vezes nem são nossas? Não digo na disputa de forças as quais são legitimas, mas proponho aqui debater a segregação ideológica que muitas das vezes cai na lógica da alienação.
A alienação em sua raiz grega diz ser a reprodução total do que não se é nosso não se é realmente desejado por nós, quando falamos pelo outro e não nos convencemos de fato se falamos por nós. Será que somos tão Marxistas? Leninistas? Stalinistas? Será que não somos apenas o que lemos para nos sentirmos intelectualmente satisfeitos para termos assunto coletivo ou cremos organicamente nas nossas leituras.
Será que podemos dizer que somos socialistas, acreditamos num mundo de oportunidades iguais se na pratica dos nossos DA s e CA s somos machistas e homofóbicos. No nosso dia a dia não sentamos do lado de um portador de HIV e nas idas até os congressos cantamos hinos de guerra na qual o mundo socialista não prega o assassinato coletivo e sim a luta de classe. Será que sabemos o que é luta de classe? Debatemos este tema para dentro e não para fora.
Percebo as forças políticas debatendo concepções que terminam na contagem de seus delegados e no pragmatismo personalista de que seus delegados muitas das vezes sequer sabem quais decisões os seus “lideres” e seus “comitês centrais” decidem.
Debatemos socialismo, mas não damos a oportunidade aos nossos delegados decidirem muitas das vezes sobre seu próprio voto, mas “batemos na tecla” que somos democráticos. Não se pode separar no meu ponto de vista teoria de prática como não se pode separar sonhar um mundo de igualdade da democracia das decisões.
Não se pode separar construir um mundo diferente nos Movimentos Sociais sendo que acreditamos que força A ou B que tem como teórico orientador X ou Y que não é de esquerda é de direita sendo que a direita esta enquanto debatemos sobre um mundo melhor em suas salas de escritório decidindo por nós salários e formas de opressão. Não proponho união pela união, mas análise crítica como diria José Paulo Netto, pois quem erra na análise erra na ação.
E como Platão dizia não se pode mover o mundo se não começar a mover por si mesmo. Não dá para debater sobre Stalin se não ler as críticas de seus “opositores” e vice versa. Como Marx estaria convencido do Socialismo se não tivesse antes estudado o Capitalismo? E como Rousseau diria que o estado de natureza acabou quando houve a propriedade privada se não lesse o contrato social de Hobbes ou Locke, não é?
Não podemos dizer do que não gostamos se estamos convencidos que o outro lado não é o que quero e estou convencido que quero assim como Milton Santos que outro mundo possível, pois a opressão que vivo e a desigualdade que me perpassa não me agrada.
Do mesmo jeito que não posso falar em uma teoria crítica se minha prática é positivista calcada do que sei é certo e o que o outro diz é errado porque é do outro. Sendo unocentrico, homofóbico e machista apenas para me reafirmar ao coletivo como diferente sem perceber que ser assim é ser igual a esta sociedade que somente me vê enquanto consumidor e não enquanto sujeito / coletivo como dizia Florestan Fernandes.
Proponho que nossas relações de poder se estiguam quando percebemos que uma outra ordem societária é possível, mas não na igualdade pela igualdade, mas sim na igualdade pela diferença, pois ser diferente é a única forma de percebemos quem somos e para que existimos, para que possamos perceber o mundo a cada dia de uma nova forma já que não somos formados para militar e sim militamos nos Movimentos Sociais para conjuntamente irmos nos formando.
Antônio Gramsci já dizia que um intelectual orgânico deve estar em constante formação para que sua arrogância acadêmico-teórica não sobressaia os valores das diferenças.
E somente assim, em constante formação e transformação como a própria juventude no dia a dia nos mostra podemos sermos melhores e termos clareza do que nossas ações iram construir. Se um outro mundo é possível e uma outra ordem é necessária que façamos da desordem a dialética de nossas vidas para formarmos diferentes do que se propõe.
Para isso Enersto Guevara dizia que deveria endurecer sem perder ternura e ler romance é uma forma de amenizar o academicismo apregoado nos discursos revolucionários.
Podemos nisso entender assim como Boa Ventura Souza Santos que para os Movimentos Sociais alavancarem em sua concepção de mundo e de lutas deve-se perceber que aos diferentes o direito da igualdade para que sejam o que são.
Ou como Rosa Luxemburgo declama em seus momentos de reflexão sobre um mundo melhor, que sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.
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